
Série Cicatrizes no Pantanal mostra danos a comunidades – 13/07/2025 – Ambiente
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- 14/07/2025
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Nos últimos anos, o pantanal, maior planície alagável do mundo, atravessou períodos severos de seca, o que tornou a região mais suscetível ao fogo e levou a recordes históricos de queimadas.
Os estragos foram sentidos em todo o bioma, no entanto, em comunidades tradicionais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas —onde o modo de vida depende diretamente da saúde da natureza—, os efeitos foram mais intensos.
Durante meses, moradores de Corumbá (MS) e de outras cidades pantaneiras conviveram com as altas temperaturas, agravadas pela presença constante da fumaça e do fogo. Em agosto, período mais intenso das queimadas, houve fechamento de estradas e suspensão de aulas.
O pantanal teve 2,6 milhões de hectares queimados em 2024. O número corresponde a cerca de 17% do bioma, segundo dados do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O total fica atrás, apenas, dos números de 2020, quando 3,6 milhões de hectares do bioma foram atingidod.
Como parte do projeto Excluídos do Clima, a Folha passou por territórios tradicionais em quatro cidades do pantanal sul-mato-grossense (Corumbá, Ladário, Miranda e Bonito), conversou com brigadistas e líderes comunitários e visitou escolas que tiveram aulas interrompidas pelo fogo.
Os relatos dessa jornada serão contados em cinco reportagens, na série “Cicatrizes no Pantanal”. O trabalho abordará impactos na saúde, na educação e nos modos de vida de comunidades rurais após as queimadas históricas de 2020 e 2024.
Nas comunidades, a falta de acesso a serviços de saúde e saneamento básico se somou aos problemas trazidos pela seca e pelo fogo —o agravamento de doenças respiratórias e a dificuldade de manter o sustento, em locais que viviam da pesca e do turismo, são alguns deles.
Em 2024, o país viveu a maior seca dos últimos 70 anos, segundo análise do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Em setembro, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou que, se as condições climáticas forem mantidas, o pantanal pode desaparecer até o fim do século.
Ecossistema de paisagem única, o pantanal vive, naturalmente, na alternância de períodos de cheia e seca, essenciais para a manutenção da biodiversidade e já conhecidos por quem vive no bioma há gerações.
Contudo, a crise do clima e o impacto de ações humanas, como o desmatamento e a degradação do solo, comprometem o equilíbrio do ecossistema, afirma Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do pantanal na plataforma MapBiomas.
Nos últimos anos, os chamados pulsos de inundação se tornaram mais raros e menos intensos. Durante a estação seca, que vai de maio a novembro, a água evapora, deixando o solo exposto e a vegetação ressecada, em cenário que favorece o avanço do fogo.
O desequilíbrio do bioma como um todo tem sido acompanhado por pesquisadores e vivido pelos moradores ouvidos pela reportagem, que afirmam não ser mais possível prever o comportamento dos rios —importante para atividades como o turismo.
O projeto Excluídos do Clima é uma parceria com a Fundação Ford.