Um caderno para viagens – 25/09/2024 – Zeca Camargo

“O que eu gostaria de ter sabido antes de partir.” Deparo com a frase folheando um caderno com o título “A Grande Aventura”. E me arrependo de ter-me presenteado com ele apenas no último dia da viagem.

Achei essa preciosidade numa de minhas livrarias favoritas na capital francesa, a Librairie Voyageurs du Monde. Nem é preciso arranhar o francês para entender por que gosto tanto de ir lá: é onde encontro os livros mais incríveis de viagem.

Mapas, guias e diários publicados estão por toda a loja, duas grandes salas com mezaninos e mais uma galeria que conecta os dois espaços. Ali também se encontra todo tipo de publicação para encher de água os olhos de turistas como nós.

Coleções de fotos, livros de receitas, títulos para crianças, publicações antigas e até literatura de viagens: histórias clássicas e contemporâneas em que o protagonismo é ora o viajante, ora a paisagem, ora a cultura de um destino. E cadernos…

Fui desta vez à Voyageurs du Monde gravar um vídeo para uma série que estou fazendo no meu Instagram (@zecacamargomundo) sobre meus lugares favoritos na capital francesa: endereços inusitados, ou nem tanto, para levar quem me acompanha por um roteiro bem pessoal de Paris.

De feiras livres a parques, de sanduicherias a restaurantes estrelados, tento passar com isso um retrato de um lugar que é, sim, o mais visitado do planeta, mas que também pode ser uma cidade bem íntima, uma vez que você escolhe os seus cantinhos do coração.

Incluir a Voyageurs du Monde nesse roteiro era indispensável. O que eu não pude prever é que encontraria numa de suas estantes um jeito diferente de encarar a próxima viagem.

Editado pela Carnets Goguette, “La Grande Aventure” me esperava com sua capa azul Yves Klein e várias páginas em branco clamando por minhas anotações. Mas esse não era um caderno de viagens qualquer.

À direita da mesa onde escrevo, posso tocar com o braço calhamaços escritos de próprio punho sobre viagens por Islândia, Papua-Nova Guiné, Sicília, Bali, minha primeira passagem por Londres, ainda adolescente, é até um tosco diário que fiz na minha estreia em Miami, aos 11 anos de idade.

Mas esses eram cadernos comuns. Embora alguns com capas sugestivas, nenhum deles trazia em suas páginas sugestões para você escrever como “em que estado de espírito eu vejo essa viagem”.

Ou “o ponto de vista de uma companhia de viagem”, “informações inúteis para guardar”, “meus sentimentos depois de dias”, “para aproveitar como um local”. E ainda: “os cinco sentidos”, para descrever o que vi, ouvi, degustei, cheirei e… “aquilo que toquei”…

Ainda em branco, esse caderno de maravilhas, dei-me conta, era o antídoto perfeito para a viagem validada em selfies, um lembrete de que uma jornada é feita de muitos registros, anotações variadas, sentimentos imprevistos e construção de memórias.

Saí da Voyageurs com ele na mão e uma urgência de planejar uma jornada que mereça todos esses registros. Ir enfim a Ushuaia. Ver o que falta na Etiópia. Pegar um barco pelo Amazonas. Ou mesmo andar infinitamente por Paris.

E sorrir ao pensar que o que eu gostaria de ter sabido antes de partir era que existia um caderno como esse, “para almas curiosas”, como “La Grande Aventure” traz escrito em sua capa.

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