Treinando em meio a bombas, Ucrânia é 7ª em medalhas – 09/09/2024 – Esporte

Treinando em meio a bombas, Ucrânia é 7ª em medalhas – 09/09/2024 – Esporte

Vladislav Zahrebelnii saca do bolso o celular e mostra ao repórter uma imagem da pista de atletismo onde treina, em Dnipro, perto do front da guerra. Ao fundo, a coluna de fumaça de um bombardeio russo.

“Quando eu treino, um foguete pode cair na minha cabeça. É assim. Existe a possibilidade de eu morrer treinando, ou até descansando em casa”, lamenta Zahrebelnii, 32, sexto colocado no salto em distância classe T37 (paralisia cerebral). Ele foi ouro na mesma prova em Tóquio, em 2021.

“Temos atletas aqui que não dormem à noite. Às 3, às 4, às 5 da manhã a Rússia lança mísseis que matam ucranianos. E nossas famílias estão lá”, lamentou na sexta-feira (6) Valerii Sushkevich, presidente do Comitê Olímpico Ucraniano, durante homenagem à delegação de seu país na prefeitura de Paris.

Apesar de condições de treino como essa, a Ucrânia foi uma das histórias de sucesso dos Jogos Paralímpicos de Paris. Terminou com 82 medalhas —22 de ouro, 28 de prata e 32 de bronze.

O total é inferior às 98 medalhas de Tóquio, meses antes da invasão russa de fevereiro de 2022. Ainda assim, representa o sétimo lugar na classificação geral, à frente até da anfitriã França. Por onde passaram, os ucranianos foram efusivamente festejados pela torcida francesa.

“Estamos junto com o Brasil”, comemorou Sushkevich em entrevista à Folha. “E qual é o milagre para estarmos junto dos melhores países? Muitos me fizeram essa pergunta em Paris. Primeiro, porque para nós cada vitória no esporte é uma vitória pela paz. Depois, não é uma coincidência. É estrutura. Vocês, no Brasil, sabem disso, porque têm uma estrutura [paralímpica] muito eficaz“, elogia.

Sushkevich se refere sobretudo a um programa existente há três décadas, chamado Invasport (sigla de “inválido” e “esporte”), uma rede de instalações esportivas paralímpicas espalhadas pela Ucrânia, facilitando a detecção e o treinamento de atletas de ponta.

Embora mais de 500 dessas instalações tenham sido danificadas pela guerra, aquelas que continuam de pé, como o estádio de Dnipro onde treina o saltador Zahrebelnii, ainda permitem aos ucranianos treinar em alto nível.

Ao contrário do que se poderia supor, os dois anos e meio de conflito não inflaram a delegação ucraniana com ex-combatentes feridos. Em Paris há apenas um atleta cuja deficiência foi provocada pela guerra contra a Rússia, na equipe de vôlei sentado. “Não dá para formar um para-atleta em um ou dois anos”, explica Sushkevich.

Uma queixa dos ucranianos tem a ver com o status de “neutros” dado nestes Jogos aos atletas da Rússia e da aliada Belarus. De neutros, segundo eles, não têm nada.

“Eles [os atletas russos e bielorrussos] podem fazer o trabalho deles sem qualquer risco à própria vida. Continuam tendo o apoio do Estado e podem usar essas competições para a propaganda interna e externa deles”, reclama Zahrebelnii.

Os russos puderam levar 88 atletas aos Jogos Paralímpicos, em esportes individuais, com um uniforme verde, sem qualquer símbolo nacional. Suas medalhas não foram computadas no quadro oficial, mas o Comitê Paralímpico Russo divulgou balanços diários nas redes sociais. Afirma ter ganhado 20 de ouro, 21 de prata e 23 de bronze, o que representaria o oitavo lugar no quadro de medalhas —logo atrás da Ucrânia.

Os ucranianos evitaram cumprimentar os rivais russos e bielorrussos antes, durante e depois das competições. Antes da cerimônia de entrega das medalhas dos 100 metros classe T35 (paralisia cerebral), Ihor Tsvietov, medalha de ouro, alertou os dois russos que ganharam prata e bronze: “Não falem comigo no pódio.” Segundo o Comitê Paralímpico Ucraniano, nenhuma instrução específica nesse sentido foi dada aos atletas.

O presidente do Comitê Paralímpico Internacional, Andrew Parsons, citou neste domingo (8) um pódio da natação, em que o ucraniano Andrii Trusov ganhou o ouro, e o russo Egor Efrosinin, o bronze. “Não foi amigável, mas foi respeitoso. É uma metáfora daquilo que as Paralimpíadas podem oferecer ao mundo: um lugar onde se possa viver juntos, sob o mesmo teto.”

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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