
Tati Machado expõe culpa após perder filho e psicóloga avalia: ‘Dá indícios’
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- 28/07/2025
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Em entrevista para CARAS Brasil, a psicóloga Leticia de Oliveira analisa relato de Tati Machado e revela como situação é comum em casos parecidos
Em entrevista ao Fantástico, Tati Machado compartilhou um dos momentos mais dolorosos de sua vida: a perda do filho, que nasceu prematuro, aos oito meses, após perder os batimentos cardíacos. Apesar do sofrimento, a apresentadora revelou um sentimento que ainda a atormenta: a culpa. Mas por que tantas mães enfrentam essa sensação, mesmo sem terem responsabilidade pelo ocorrido?
Para entender esse luto tão silencioso e muitas vezes solitário, a CARAS Brasil conversou com a psicóloga Leticia de Oliveira, que analisou o caso e explicou por que o sentimento de culpa é tão comum nesse tipo de perda.
A culpa após uma perda gestacional
“Muitas mães que passam por uma perda gestacional, como a de Tati Machado, relatam um sentimento de culpa mesmo sem haver explicação médica. Esse sentimento de culpa é muito comum por alguns fatores. Primeiro, porque existe uma responsabilidade internalizada da maternidade, como se, por estar no ventre da mãe, ela fosse a única responsável pela vida e saúde daquela criança. Então, a atividade física que a mãe faz, o esforço que ela faz, o que ela ingere de vitamina, se tomou ou não a vacina, se o pré-natal foi feito da maneira ideal, se a médica procurada era a mais responsável, se as vitaminas foram tomadas, se algum produto foi passado no rosto que não poderia, se passou repelente… Tudo isso fica a cargo da mulher”, explica Leticia.
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A pressão, no entanto, não vem apenas de dentro: “E não é só a mulher que se cobra, a sociedade também cobra. Infelizmente, não é incomum as pessoas perguntarem para uma mãe que perdeu o bebê: ‘Ah, mas você fez algum esforço? Sentiu algo diferente?’. Isso dá indícios, talvez não conscientes, de que a mãe teria a obrigação de ter percebido algum sintoma diferente e, assim, salvado o bebê”, diz a psicóloga.
Além da responsabilidade social imposta, há também o instinto de buscar sentido diante da dor: “Se não foi nada que eu fiz, fico impotente; mas se foi um creme que usei, uma briga que tive ou um estresse que passei, isso soa como algo que posso controlar e evitar numa próxima vez. Então, de forma inconsciente, buscamos sentido diante dessa dor”, afirma.
A importância do contato com o bebê para elaborar o luto
Mesmo diante da tragédia, Tati descreveu o parto como um momento de conexão com o filho. Segundo a psicóloga, essa experiência pode ser fundamental para o processo de aceitação.
“Esse contato pode ajudar muitos pais porque torna a perda concreta e também simbólica. Quando não há o processo do parto, de segurar e tocar o bebê, e só é feita uma curetagem, quase parece um luto esquizofrênico: você sente uma dor enorme por algo que nem está mais dentro de você e que nem chegou a conhecer”, diz Leticia.
Ela continua: “Esse processo torna a experiência mais real, concreta e humaniza aquela dor, que passa a ter rosto, cheiro, emoções e sensações reais. […] A experiência concreta é mais fácil de ser processada do que uma experiência que não chega a se concretizar”.
Mesmo sem vida, o parto pode criar memórias significativas: “É uma forma de acolher o vínculo com aquela criança que não está mais viva, mas que existe, é real e concreta, em vez de simplesmente negá-la”.
Quando a medicina não traz respostas, como lidar com o vazio?
No caso de Tati, a medicina não foi capaz de explicar a morte do bebê, uma ausência de respostas que torna tudo ainda mais doloroso.
“O ser humano tem muita dificuldade de lidar com a falta de resposta, porque o objetivo, o concreto e o plausível ajudam a explicar e também dão uma sensação de controle”, analisa a psicóloga. “De forma quase instintiva, precisamos dar respostas para aumentar essa sensação de controle.”
Para ela, o caminho está no acolhimento da dor e na aceitação do que não se pode mudar: “É falar bastante sobre o luto, dar voz à dor para que ela seja processada, mas também aprender a lidar com a ausência de controle. […] Em vez de lutar para ter controle, é trabalhar a aceitação da vulnerabilidade e ressignificar esse momento doloroso”.