Sul e Sudeste têm até cinco vezes mais pediatras – 26/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Sul e Sudeste têm até cinco vezes mais pediatras – 26/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

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  • 27/07/2025
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O Brasil tem uma média nacional de 94,72 pediatras para cada 100 mil habitantes de até 19 anos, mas a distribuição desses profissionais é desigual entre as regiões. Estados do Sul e Sudeste, como Rio Grande do Sul e São Paulo, e também o Distrito Federal, no Centro-Oeste, apresentam pelo menos cinco vezes mais pediatras por criança e adolescente do que estados do Norte e Nordeste, como Amapá, Amazonas, Acre, Pará e Maranhão, que são os cinco com menor cobertura.

O Distrito Federal lidera com a maior proporção, registrando 258,35 pediatras para cada 100 mil habitantes de até 19 anos, considerando a população jovem estimada em 54,5 milhões. Em seguida, vêm Rio de Janeiro (147,85), Espírito Santo (140,15), São Paulo (136,08) e Rio Grande do Sul (126,03). Já o Maranhão tem a menor oferta, com apenas 27,98 pediatras para cada 100 mil crianças e adolescentes, seguido por Pará (28,74), Acre (33,35), Amazonas (37,48) e Amapá (38).

Os dados são do estudo Demografia Médica no Brasil 2025, divulgado em abril pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), que mostra que o país contava com 47.787 pediatras ativos em 2024. Apesar disso, o total de registros na especialidade chega a 51.628, pois cerca de 3.841 médicos (8% do total) possuem mais de um registro em diferentes Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) ou unidades da Federação.

No âmbito internacional, o Brasil supera a média de 18,05 pediatras para cada 100 mil habitantes (considerando toda a população, não só crianças e adolescentes) observada em 41 países avaliados, com uma taxa nacional de 23,53. Está à frente de nações latino-americanas como Chile (20), México (17) e Colômbia (8). A Grécia registra a maior taxa (44), enquanto a Islândia tem a menor (5).

Além da desigualdade regional, o estudo aponta que os pediatras se concentram na rede privada, especialmente nas regiões com maior oferta, o que dificulta o acesso para quem depende do SUS (Sistema Único de Saúde). Esse padrão também se observa em outras especialidades médicas, como ginecologia e obstetrícia.

Para o pediatra Eduardo Jorge Lima, conselheiro no CFM (Conselho Federal de Medicina), o principal desafio não é a ausência de profissionais no mercado, mas a forma como estão distribuídos. “O Brasil tem um número considerável de pediatras, mas há uma concentração nos grandes centros urbanos e na rede privada, o que deixa vastas áreas do país com cobertura insuficiente”, afirma.





O Brasil tem um número considerável de pediatras, mas há uma concentração nos grandes centros urbanos e na rede privada, o que deixa vastas áreas do país com cobertura insuficiente

Segundo Lima, a má distribuição se deve a fatores como vínculos empregatícios precários no SUS, falta de plano de carreira com mobilidade e condições de trabalho desfavoráveis. “Esses elementos afastam os pediatras do serviço público, especialmente nas regiões mais vulneráveis.”

Edson Liberal, presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), também aponta a retirada dos pediatras da Atenção Primária à Saúde (APS) como um dos principais fatores da desigualdade. “Faz duas décadas que há um desestímulo à entrada do pediatra no setor público. Os três níveis de governo, municipal, estadual e federal, deixaram de contratar pediatras para a Atenção Básica, e isso impacta diretamente o acesso da população mais vulnerável ao especialista”, afirma.

Segundo ele, a Estratégia de Saúde da Família, embora positiva em vários aspectos, não contempla a presença do pediatra nas equipes. “Quem pode pagar um plano de saúde escolhe o pediatra. Quem depende do SUS muitas vezes não tem essa opção”, diz.

Jamile Brasil, superintendente do Hospital Municipal Menino Jesus, em São Paulo, referência em pediatria, diz que a desigualdade no acesso a pediatras é percebida na rotina do hospital. Segundo ela, o Menino Jesus tem mais facilidade para contratar pediatras devido à tradição da residência médica, com 16 vagas anuais desde 1972.

“A residência forma profissionais alinhados com o trabalho no SUS, e muitos permanecem no hospital após a formação”, afirma.

Com cerca de 12 mil atendimentos mensais, sendo 5.000 no pronto atendimento e 7.000 no ambulatório de especialidades, o hospital é referência municipal em tratamentos complexos, como fissura labiopalatina, pé torto congênito, reabilitação intestinal e acompanhamento pré e pós-transplante hepático pediátrico.

“Concentrar o cuidado em um único lugar facilita o acompanhamento e reduz atrasos no diagnóstico e tratamento”, diz Brasil. “Também conseguimos integrar a equipe multiprofissional, o que torna o atendimento mais completo.”

Ainda assim, a rotatividade de pediatras é maior no pronto-atendimento, setor que exige mais profissionais e onde a reposição nem sempre é suficiente. Também há dificuldade para repor especialistas em áreas como neurologia infantil.

“São poucas vagas de residência e, após a formação, muitos profissionais preferem o setor privado, que oferece remuneração maior e menor demanda assistencial”, observa.

O CFM defende o papel da telemedicina como ferramenta complementar para ampliar o acesso em regiões remotas, embora ressalte que ela não substitui a presença física do médico. “A telemedicina ajuda, mas não é a solução definitiva”, diz o conselheiro.

Liberal diz que a SBP tem feito reuniões com o CFM, a AMB (Associação Médica Brasileira) e o Ministério da Saúde para tentar reverter esse cenário. “Queremos o retorno do pediatra à Atenção Básica. Nem por vínculo precário os municípios têm contratado. Isso precisa mudar”, afirma.

Residência médica tenta reduzir desigualdade regional

Felipe Proenço, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, diz que o Ministério da Saúde reconhece a desigualdade na distribuição de pediatras pelo país e que a pasta participou do estudo Demografia Médica no Brasil para identificar os problemas no país.

Para o secretário, embora a concentração de especialistas seja maior na rede privada, isso não significa que o SUS fique sem pediatras. “A maioria dos profissionais atua tanto no sistema público quanto no privado, mas o percentual que trabalha exclusivamente na saúde privada é maior do que o que atua somente no SUS.”

Entre as estratégias do Ministério da Saúde para ampliar a presença de pediatras, Proenço destaca o investimento em programas de residência médica. “O pró-residência foi criado para enfrentar essas desigualdades. Ao ser retomado em 2023, priorizou a pediatria. Todas as solicitações de novos programas ou ampliação na Amazônia Legal foram contempladas.”

Na quarta-feira (23), o Ministério da Saúde anunciou um conjunto de medidas voltadas à formação de especialistas para atuar na Atenção Especializada, uma das áreas mais críticas do SUS. Entre as ações, estão a oferta de 1.700 vagas para qualificação de médicos em regiões com escassez de profissionais, a abertura de mil novas bolsas de residência multiprofissional, além de incentivos à preceptoria e à formação em áreas como oncologia.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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