São Paulo: capital ou túmulo da corrida? – 24/07/2025 – No Corre

São Paulo: capital ou túmulo da corrida? – 24/07/2025 – No Corre

O gigantismo de São Paulo faculta, ao mesmo tempo que banaliza; proporciona, mas eclipsa. Pense nas provas de corrida de rua. São centenas, quase todos os fins de semana do ano. Há provas passando por avenidas, pontes, elevados, estádios, universidades, shoppings, escadaria de prédio histórico; com cachorro; pela manhã, de tarde, à noite.

Mas afirmar que o paulistano vai lá torcer, apoiar, que ele as abraça, como diriam os panglossianos, é forçar demais a barra.

Já houve algum envolvimento popular na centenária São Silvestre, especialmente quando ela acontecia em horário mais festivo, de noite, e quando lendas do atletismo como Emil Zatopek, a Locomotiva Humana, eram mais frequentes por aqui. Poucas coisas, contudo, são mais distantes do cotidiano do morador de São Paulo do que suas duas maratonas.

A que acontece neste domingo (27), a On SP City, cresceu pelos méritos da empresa que a criou, cujo casal proprietário tenta aprimorar a prova, e muito também pela inapetência por evolução da organizadora da maratona decana, que até anteontem também organizava a São Silvestre.

Há pouco a City introduziu os dois pórticos de largada, excelente ideia para minorar um problema histórico, o congestionamento na saída provocado por corredores mais lentos. A novidade deste ano é a supressão de uma rua anticlímax de cerca de 500 metros na entrada do Jockey, o que deve tornar a chegada mais apoteótica.

A própria escolha, já antiga, do Jockey Club para a dispersão é um plus –um leitor se incomodou com o “plus a mais” de um texto anterior–, o que permite um “pós-prova” mais prolongado, para gáudio de patrocinadores e permutadores.

Tudo isso melhora a “experiência” do corredor, mas continua sem mexer com o habitante da cidade. Ruim para organizadores e patrocinadores, que sonham com uma integração total com o ambiente, à Nova York, ou, vá lá, como o Rio, cuja maratona ocupa um feriado prolongado inteiro.

Na época do prefeito João Doria, o Breve, criou-se um epíteto ufanista, à feição da administração marqueteira do autoproclamado gestor: “São Paulo, capital mundial da corrida”.

Cada vez mais pessoas correm, não necessariamente participam de provas, o que está bem, está ótimo, mas envolvimento com a cidade, como se São Paulo respirasse corrida, isso é outra história. Não vejo São Paulo a “respirar” nenhum de seus grandes eventos, Copa do Mundo, Fórmula 1, parada LGBT, marcha com Deus. Se respirou alguma coisa, foi lá atrás, o MMDC, o anarcossindicalismo, o gol de Basílio e o cortejo fúnebre de Senna.

Talvez o Carnaval hoje se aproxime disso, mas o túmulo do samba está sempre à espreita: que dizer da antecipação da apuração do desfile das escolas de samba, agora em plena terça gorda, durante o Carnaval, portanto, como se fosse preciso indicar aos paulistanos que há limites muito rígidos e assépticos para a farra?

Não reclamo da apatia da cidade. Sou minimalista. Tenho como modelo a Maratona do Rio Charles, em Boston, que é organizada por um estafe de umas cinco pessoas, prescinde de locutor a despejar platitudes na tigrada e começa e termina praticamente sem deixar rastros.

E, mesmo nessa prova, falo por experiência própria, parece haver mais gente a apoiar do que a correr. Mas o apoio é estranho, os torcedores gritam a todo momento “work!, work!”.


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Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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