Rádio Auriverde, de Bauru, vira porta-voz do bolsonarismo – 26/07/2025 – Poder

Rádio Auriverde, de Bauru, vira porta-voz do bolsonarismo – 26/07/2025 – Poder

A edição do News da Manhã Brasil da sexta-feira, 18 de julho, foi agitada. A primeira meia hora do noticiário da Rádio Auriverde, de Bauru, no interior paulista, seguia o roteiro de todo dia, com a reprodução do hino nacional e as inserções do merchandising, quando o administrador e apresentador da rádio, Alexandre Pittoli, recebeu a informação de que a Polícia Federal fizera diligências na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília. “Fomos pegos de surpresa e iniciamos um voo sem instrumentos, o que nunca é agradável”, lembra Pittoli, que passou a atualizar as notícias minuto a minuto.

Nos estúdios, Pittoli tentava marcar entrevistas com políticos de direita, mas ninguém respondia às mensagens. Expulsa da Jovem Pan, a Rádio Auriverde se tornou um dos principais veículos de comunicação do bolsonarismo, abrigando as pautas do campo político, entre as quais as teorias conspiratórias contra as urnas eletrônicas.

Todos os dias, passam pelos microfones do News da Manhã Brasil políticos de direita, como os deputados federais do PL Carlos Jordy (RJ) e Nikolas Ferreira (MG), além do elenco de comentaristas, egressos da Jovem Pan —Rodrigo Constantino, Alexandre Garcia e Cristina Graeml. Com seis horas de duração, o jornal é o carro-chefe da Auriverde, sendo transmitido também no YouTube.

Como não existe apuração de informações, o objetivo do programa, diz Pittoli, é analisar o cenário político sob o viés bolsonarista. Além do apresentador, participam sempre do jornal Gabriela de Ângelo, que repassa as notícias publicadas pelos principais veículos de imprensa do país, e o comentarista Eduardo Borgo, vereador em Bauru pelo partido Novo.

Com 2 milhões de inscritos no YouTube, a audiência da Auriverde na plataforma tem, em média, 37 mil espectadores simultâneos, segundo o apresentador. Na manhã da operação da PF, o número chegou a 40 mil. Além do matutino, a grade diária é composta ainda por um programa esportivo e um noticiário local. Em tempos recentes, a rádio passou a transmitir os protestos bolsonaristas.

Segundo Pittoli, o faturamento da Auriverde se dá com a publicidade e a monetização do YouTube. Não há, diz ele, financiamentos de grupos políticos. É comum ouvir, durante o jornal, comentários em defesa do voto impresso, como o proferido por Pittoli, no mês passado. Por isso, a Auriverde recebeu do YouTube um “shadowbanning”.

O termo em inglês menciona uma técnica da plataforma para restringir determinada página, mesmo que o usuário seja frequente. “Como é que hoje tenho uma audiência e amanhã tenho menos audiência? Estou ciente de que construí no terreno dos outros, mas acho que a relação mais clara com as big techs facilitaria o meu trabalho como empresário”, afirma.

De todo modo, a Auriverde ganhou a importância que tem sobretudo por dois motivos. Em primeiro lugar, a emissora tem agora o antigo público da Jovem Pan. Em 2017, a Auriverde se filiou à rede de comunicação para sair de um quadro de crise econômica, mas foi expulsa dela, depois das eleições de 2022.

Naquele período, a Jovem Pan moderou a linha editorial, antes atrelada à pauta bolsonarista, e demitiu comentaristas, alguns absorvidos pela Auriverde. Naquela altura, a Jovem Pan já entrara na mira do Ministério Público, com a difusão de notícias falsas durante o período eleitoral. Pelo mesmo motivo o YouTube decidira desmonetizar o canal da rádio. Mesmo assim, Pittoli não aceitou a mudança na linha editorial.

Numa audiência no Senado, chegou a acusar a Jovem Pan de fazer um acordo com as autoridades, sem deixar claro quais, para “entregar” os seus jornalistas. Pittoli é alvo de uma ação por danos morais, sobre o qual não comenta, dada a proximidade da audiência em juízo. Procurada, a Jovem Pan não se pronunciou.

Um segundo motivo para a popularidade da Auriverde é a simpatia que o próprio Bolsonaro tem pela rádio. Já são 14 entrevistas concedidas à emissora, desde que a conheceu, há dois anos, por intermédio do senador Marcos Pontes (PL-SP), que é natural de Bauru.

Fundada em 1956, Auriverde teve uma programação comum para uma rádio local em quase sete décadas de existência. Na maior parte do tempo, foi comandada por Airton Daré, dono da Bauruense, empresa do ramo da logística.

Com a morte dele, em 2011, a rádio se tornou parte do espólio de Daré, agora administrado por Pittoli. A virada à direita se deu a partir de um comentário feito há dois anos pelo apresentador sobre a graça que Bolsonaro concedeu ao ex-deputado federal Daniel Silveira. O comentário gerou grande audiência.

“É tudo ao vivo, não tem pegadinha ou recorte. A palavra é franqueada a Bolsonaro, como seria a outra autoridade. Queria entrevistar o Lula e algum ministro do Supremo. Eles teriam portas abertas”, diz o comentarista Eduardo Borgo.

Na visão de Borgo, há no Brasil um estado de exceção, e o tarifaço deve ser entendido como um direito unilateral dos Estados Unidos. “O tarifaço é um ato de soberania americana. Se essa for a medida para restabelecer a ordem democrática no Brasil, o que não podemos aceitar é nos tornarmos uma Venezuela”, diz Borgo.

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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