
rabinos pró-Irã que vieram ao Brasil a convite do PT
- Internacional
- 23/07/2025
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Em evento convocado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, no início deste mês, uma cena chamou atenção: um rabino subiu à tribuna para defender o fim do Estado de Israel. Yisroel Dovid Weiss, recentemente banido de entrar em Israel, é parte de um grupo dito antissionista ultraortodoxo judaico chamado ‘Naturei Karta’, que virou queridinho de movimentos de esquerda pró-Palestina e em grande medida, pró-Hamas. Mas quem eles realmente são?
Os Naturei Karta são um grupo fundamentalista judaico com relações muito próximas ao Irã, frequentemente presente em eventos de negação ao holocausto e pró-Palestina, e que, por motivos religiosos, rejeitam a existência do Estado de Israel. São insulares no meio judaico por defenderem ideias não presentes na maior parte da comunidade, como o “antissionismo”, e a crença retrógrada relacionada ao direito das mulheres e algumas visões sobre a sociedade atual.
As razões que levam o grupo a rejeitar a ideia do Estado de Israel são 100% religiosas, diferentemente dos crescentes movimentos pró-Palestina – inclusive no Brasil – que costumam ter motivações políticas e ideológicas, algumas delas consideradas recentes como a rejeição ao imperialismo.
Os Naturei Karta acreditam que a criação do Estado de Israel, independentemente da forma ou local, não pode vir através do homem, mas apenas da vontade divina. Isso porque, para eles, os judeus, atualmente, vivem sob exílio segundo um castigo bíblico.
O grupo é amplamente rejeitado pela população e governo israelense por se aliar a inimigos que clamam pela destruição do Estado de Israel. No último dia 7, o ministro do Interior de Israel, Moshe Arbel, revogou permanentemente o visto do rabino Yisroel Dovid Weiss – o mesmo que esteve no evento petista – por se encontrar com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, no Brasil.
As aproximações entre integrantes do grupo e lideranças da república islâmica não são recentes. Em 2006, o grupo esteve presente em uma conferência em Teerã que questionava a existência do Holocausto, e um dos presentes era Mahmoud Ahmadinejad, ex-presidente do Irã que chegou a afirmar que o Holocausto era um “mito”. Em 2009, integrantes do movimento estiveram junto às lideranças do Hamas – entre eles, Ismail Haniyeh, um dos idealizadores do ataque terrorista do dia 7 de outubro.
Para especialista, aproximação do governo com o grupo “mostra como o presidente está mais interessado em se aliar contra Israel”
Para Daphne Klajman, especialista em antissemitismo e coordenadora acadêmica do Hillel Rio, a aproximação do governo com o grupo fundamentalista judaico considerando este “como qualquer tipo de grupo válido ou representativo do povo judeu mostra como o presidente (Lula) está mais interessado em se aliar contra Israel do que em se aliar com sua própria comunidade judaica local”.
“A gente vê desde o dia 7 de outubro pedidos específicos da comunidade judaica por segurança diante do aumento do antissemitismo. E a melhor resposta que a gente tem do presidente é que antissemitismo é vitimismo, que não é um problema real aqui no país. Enquanto isso ele está trazendo judeus para colaborar com a ideia dele, mas que ao mesmo tempo apoiam um regime responsável em parte por financiar o dia 7 de outubro, um regime que cria armas nucleares para destruir o povo judeu”, diz.
Para ela, isso é “extremamente preocupante”. “Desde a entrada desse governo, vemos uma aproximação muito grande do regime iraniano com o Brasil, apoio diplomático do Brasil ao Irã, mesmo frente a tentativas ativas de genocídio contra Israel, com os bombardeios recentes, que não miraram alvos militares e, sim, civis, especificamente, tentando maximizar o número de baixas israelenses possíveis.”

Ela ratifica que o grupo fundamentalista é contra a existência do Estado de Israel “porque vai contra o que eles acreditam religiosamente, não tem nada a ver com a justiça social promovida por movimentos de esquerda”.
Entretanto, Daphne salienta que “hoje em dia eles encontram aliados nesses movimentos de extrema-esquerda para se aproveitar da causa deles e empurrar o que eles acreditam de forma religiosa”. “Mas eles são completamente opostos no que eles acreditam de justiça social. […] Eles rejeitam os direitos LGBT, não acreditam nos direitos iguais das mulheres”, alerta.
Para a especialista, a aproximação dos movimentos progressistas com o Naturei Karta é “contraditória e hipócrita”. “Os progressistas falam que sustentam diversas causas, direitos das minorias, igualdade dos povos, mas diante de um grupo de fundamentalistas religiosos com valores exatamente opostos a 100% de tudo que eles acreditam – porém que também são contra Israel – aí tudo bem”, ironiza. “É como os movimentos progressistas encaram aproximações com esse movimento e até com o próprio Irã”, opina Klajman.