Por que a IA está demorando tanto para se disseminar? – 21/07/2025 – Mercado

Por que a IA está demorando tanto para se disseminar? – 21/07/2025 – Mercado

Converse com executivos e logo eles começarão a exaltar todas as maneiras maravilhosas pelas quais seus negócios estão usando inteligência artificial.

Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, disse recentemente que seu banco tem 450 casos de uso para a tecnologia. “A IA se tornará o novo sistema operacional dos restaurantes”, segundo a Yum! Brands, que administra o KFC e o Taco Bell. A IA “desempenhará um papel importante na melhoria da experiência do viajante”, diz o proprietário do Booking. No primeiro trimestre deste ano, executivos de 44% das empresas do S&P 500 discutiram IA em teleconferências de resultados.

Independentemente do que os executivos possam dizer, no entanto, a IA está mudando os negócios muito mais lentamente do que o esperado. Uma pesquisa do Departamento do Censo americano indicou que apenas 10% das empresas a estão usando de maneira significativa. “A adoção corporativa decepcionou”, observa um artigo recente do banco UBS.

O Goldman Sachs, outro banco, acompanha empresas que, na visão de seus analistas, têm “a maior mudança potencial estimada nos lucros de base a partir da adoção de IA”. Nos últimos meses, os preços das ações dessas empresas tiveram desempenho inferior ao do mercado. Com suas capacidades fantásticas, a IA representa notas de cem dólares espalhadas pela rua. Por que, então, as empresas não estão recolhendo-as? A economia pode fornecer uma resposta.

Claro, ainda estamos no início. Colocar a IA em uso requer lidar com obstáculos, como conjuntos de dados que não estão adequadamente integrados à nuvem, o que significa que alguns atrasos eram esperados. A difusão da IA, no entanto, decepcionou até mesmo essas expectativas mais modestas.

Analistas do Morgan Stanley já disseram que 2024 seria “o ano dos adotantes”. Isso não se concretizou. Este ano deveria ser “o ano dos agentes”, envolvendo sistemas autônomos que realizam tarefas com base em dados e regras predefinidas. Mas, de acordo com o artigo do UBS, 2025 será, em vez disso, “o ano da avaliação de agentes”, com as empresas apenas testando as águas. Talvez existam razões mais profundas para a desconexão entre o entusiasmo da alta direção e a lentidão no chão de fábrica.

Economistas da linha de “escolha pública” há muito argumentam que funcionários do governo se comportam de maneira a maximizar seu ganho pessoal, em vez de promover os interesses públicos. Burocratas podem se recusar a implementar cortes de empregos necessários se isso significar deixar seus amigos sem trabalho, por exemplo.

Empresas, especialmente as grandes, podem enfrentar problemas semelhantes. Na década de 1990, Philippe Aghion, da London School of Economics, e Jean Tirole, da Universidade Toulouse 1 Capitole, distinguiram entre autoridade “formal” e “real”. No papel, um diretor executivo tem o poder de determinar mudanças organizacionais em grande escala. Na prática, os gerentes intermediários que entendem os detalhes e controlam a implementação diária dos projetos detêm a autoridade real. Eles podem moldar, atrasar ou até vetar qualquer mudança solicitada de cima.

Dinâmicas de escolha pública frequentemente entram em jogo quando as empresas consideram adotar novas tecnologias. Joel Mokyr, da Northwestern University, argumentou que “ao longo da história, o progresso tecnológico enfrentou [um] poderoso inimigo: a resistência proposital e interessada à nova tecnologia”. Frederick Taylor, um engenheiro creditado por introduzir técnicas gerenciais adequadas na América no final do século 19, reclamava que as lutas de poder dentro das empresas frequentemente comprometem a adoção de novas tecnologias.

Pesquisas mais recentes descobrem que esses conflitos continuam vivos e ativos. Em 2015, David Atkin, do Massachusetts Institute of Technology, e colegas, publicaram um artigo examinando fábricas no Paquistão que produziam bolas de futebol, discutindo o destino de uma nova tecnologia que reduzia o desperdício. Após 15 meses, eles descobriram que a adoção permanecia “intrigantemente baixa”. A nova tecnologia desacelerava certos funcionários, que, como resultado, impediam o progresso, “inclusive desinformando os proprietários sobre o valor da tecnologia”.

Outro artigo, de Yuqian Xu da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, e Lingjiong Zhu da Universidade Estadual da Flórida, encontrou batalhas semelhantes entre trabalhadores e gerentes em um banco asiático que está tentando automatizar suas atividades.

Poucos economistas examinaram até agora as batalhas intraempresariais sobre IA, mas é provável que sejam ferozes. A empresa moderna em um país rico é surpreendentemente burocratizada. As empresas americanas têm 430 mil advogados internos, acima dos 340 mil de uma década atrás (uma taxa de crescimento muito mais rápida que a do emprego geral). Seu papel geralmente é impedir que as pessoas façam coisas. Eles podem se preocupar com os riscos de introduzir produtos de IA.

Com pouca ou nenhuma jurisprudência, quem é responsável se um modelo der errado? Quase metade dos entrevistados nas pesquisas do UBS diz que “preocupações com conformidade e regulamentação” são um dos principais desafios para a adoção de IA em sua empresa. Outros especialistas jurídicos se preocupam com o impacto da tecnologia em questões tediosas como privacidade de dados e discriminação.

Pessoas em outras funções têm suas próprias preocupações. A equipe de RH (cujo número nos EUA aumentou 40% na última década) pode se preocupar com o impacto da IA nos empregos e, assim, criar obstáculos para os programas de adoção.

Enquanto isso, Steve Hsu, físico da Universidade Estadual de Michigan e fundador de uma startup de IA, argumenta que muitas pessoas se comportam como os fabricantes de bolas de futebol paquistaneses. Os gerentes intermediários se preocupam com as consequências a longo prazo da adoção da IA. “Se eles a usarem para automatizar empregos um nível abaixo deles, eles se preocupam que seus empregos serão os próximos”, diz Hsu.

A TIRANIA DO INEFICIENTE

Com o tempo, as forças de mercado deveriam encorajar mais empresas a fazer uso sério da IA. Como aconteceu com tecnologias anteriores, como o trator e o computador pessoal, empresas inovadoras devem superar as resistentes e eventualmente tirá-las do mercado. No entanto, esse processo levará um tempo —talvez longo demais para as grandes empresas de IA, que precisam obter lucros enormes sobre seus investimentos em data centers. A ironia da automação que economiza trabalho é que as pessoas frequentemente ficam no caminho.

Texto da The Economist, traduzido por Matheus dos Santos, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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