Pobreza gourmet, tendência nos bares da zona oeste de São Paulo – 08/07/2025 – Cozinha Bruta

Pobreza gourmet, tendência nos bares da zona oeste de São Paulo – 08/07/2025 – Cozinha Bruta

Outro dia vi em alguma rede social alguém definir com precisão o pesadelo estético e ético que assombra os bares da zona oeste de São Paulo, mais intensamente em Pinheiros e no recém-gentrificado Eixo Minhocão –que se estende para o centro, da Barra Funda à Vila Buarque, passando por Santa Cecília.

É a pobreza gourmet.

A postagem tirava o casco de um influenciador que achava o máximo um bar que servia coquetéis num saco plástico com canudinho. Pobreza conceitual, miséria gourmet.

A pobreza gourmet é mais ampla do que o drinque caricato, às vezes a praticamos –sendo “nós” os zonaoesters progressistas que nos gabamos de ter consciência de classe– sem sequer nos dar conta disso.

Ela está nos cardápios (“Vai moela? Que tal uma releitura de rabo de galo?”). Mora na trilha sonora (“Sempre amei o pagode do grupo Soweto.”).

Até aí, sei lá, acho aceitável e até saudável descer do troninho para encarar uma realidade menos filhinho de papai.

Ocorre que o pessoal leva a coisa às últimas em busca do vil metal.

Do saco nunca bebi, mas são tantas as experiências de pobreza premium. Vai daquele guardanapo encerado que não limpa a boca –e que outrora era ouro para os maconheiros– à jarra de abacaxi de plástico para servir suco.

Tem como fundamento basilar o desconforto: mesas de lata ou plástico, banquetas de madeira sem encosto ou cadeira de praia. Como se a rua Sousa Lima fosse a calçada da tia Eusébia em Itapipoca.

Toalha de plástico, prato duralex, caneca de ágata. A pobreza conceitual, como o Coisa Ruim, mora nos detalhes.

A pobreza gourmet transcende para uma experiência de pobreza real quando chega ao banheiro. E chega lá facinho, porque é facinho não lavar privada.

O que não falta no Eixo Minhocão é bar com banheiro com a porcelana mais barata que há, detergente para lavar as mãos e papel higiênico que rasga o oritimbó. Quando tem água, sabão e papel.

O devaneio estético da pobreza gourmet evapora quando chega a conta, cada cerveja popular quase fria a mais de 20 contos e o drinque de jurubeba com Paratudo, batizado de Paraisópolis, a quarentinha.

Está na hora de pegar o Uber de volta pra casa. Uber Black, porque a gente merece se mimar depois de tanto perrengue.


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Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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