Periquitos cara-suja voltam à reserva após 114 anos – 22/07/2025 – Ambiente

Oito periquitos cara-suja foram introduzidos na Reserva Natural Serra das Almas, no planalto da Ibiapaba, entre as cidades de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), após 114 anos de desaparecimento na região. Eles foram soltos no dia 14 de julho.

A espécie é nativa do Ceará e ameaçada de extinção. Um esforço conjunto, no entanto, tenta reverter o declínio populacional da ave. A ação foi coordenada pelo projeto Refaunar Arvorar, uma iniciativa da ONG Aquasis, Associação Caatinga e o novo parque temático Arvorar, do Beach Park, focado em educação e conservação ambiental.

Entre as aves reintroduzidas, estão quatro filhotes que nasceram no local após os 114 anos de desaparecimento. Eles são resultado da reprodução de um casal que passou por um processo de aclimatação na Reserva Natural Serra das Almas. A fêmea foi recebida pelo parque Arvorar em setembro de 2024, como fiel depositária, através de uma ação coordenada com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

À Folha o gerente do Projeto Cara-Suja, da ONG Aquasis, Fábio Nunes, explicou que essa soltura é a culminância de um projeto que já dura 20 anos. O animal foi considerado o periquito mais ameaçado de extinção no Brasil e só era encontrado em uma localidade, com população de menos de cem indivíduos na natureza, caminhando para a extinção como outras espécies do Nordeste.

No caso do planalto da Ibiapaba, por exemplo, houve o registro de uma ornitóloga alemã em 1910, quando foram coletados dois indivíduos. Depois disso, o animal não foi mais encontrado.

A perpetuação da espécie, explica, aconteceu por meio da educação de pessoas em áreas em que ele ainda estava, além da colocação de ninhos artificiais para que pudessem se reproduzir.

“O que acontece é que eles se reproduzem dentro do oco de árvores. A serra de Baturité, onde encontramos os indivíduos, é muito jovem, então esses ninhos artificiais ofertavam a eles um recurso que era considerado um escasso. De 2010 para cá, nasceram nesses ninhos 5.999 filhotes, dos quais 4.629 voaram. Agora, o nosso objetivo é fazer com que ela desça ainda mais degraus no grau de ameaça até que efetivamente saia dessa classificação”, afirmou.

O Arvorar, por meio do projeto Refaunar, em parceria com a Associação Caatinga e Aquasis, já havia realizado uma ação de reintrodução do periquito cara-suja na reserva em dezembro do ano passado.

Naquela ocasião, 18 aves aclimatadas foram soltas, e outros três animais apreendidos pelo Ibama e encaminhados ao Arvorar foram enviados para o mesmo local para aclimatação e posterior soltura. Dentre estes, estava a fêmea que deu origem aos primeiros filhotes nascidos na região.

“Comemoramos cada passo desse processo. Desde as condições favoráveis das aves irem para a aclimatação, depois a reprodução da fêmea que havíamos recebido do Ibama e cuidado dela com todo carinho, até o nascimento dos filhotes e agora de todos eles”, disse a gerente do parque Arvorar, Leanne Soares.