
O que sentem mães e pais com essa perspectiva climática? – 16/02/2025 – Giovana Madalosso
- Ciência e Tecnologia
- 18/02/2025
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Nessa semana, durante a madrugada, acordei suando. Eram duas da manhã, o termômetro devia estar roçando os 30 graus, mas não era só o calor que me consumia: era a angústia de saber que este calor vai piorar muito, junto com os desastres e outras consequências trágicas da crise climática. No quarto ao lado, dormia minha filha, de 12 anos. Como será seu futuro?, me perguntei, talvez pela milésima vez. E senti um desamparo tão grande que, assim que o sol raiou, resolvi perguntar para outras mães e pais como eles vêm lidando com isso.
“Isso me assombra desde antes de Antônio nascer. Pensava: faz sentido colocar mais alguém num mundo que caminha para o insuportável? Hoje, vejo ele aqui, encantado com as lagartas (e os dragões barbudos), com os limões do nosso quintal, com a chuva e torço, torço muito, pra que ainda exista mundo vivo, por quanto tempo for possível. Mas toda noite, quando preciso ligar o ventilador de novo e dou um beijo no seu pescoço suado, já logo depois do banho, me assusto, porque me parece cada vez mais distante.”
Marcela Dantés, mãe de Antônio, 5.
“Eu tento educar minha filha para ser uma ativista climática, mas vira e mexe me bate uma desesperança e eu começo a pesquisar pra onde vamos fugir, se é que isso será possível, quanto pode custar. Viva o capitalismo que não desmorona nem quando o mundo está desmoronando. Pavor desse assunto.”
Ana Reber, mãe de Nina, 6.
“Eu sinto que preciso ser prática. Sei que não vou conseguir parar as máquinas, as petroleiras, o desejo incontrolável de lucro das empresas. Mas estou aprendendo sobre agrofloresta e procuro estar com meus filhos em lugares que têm nascentes d’água. Não quero que fiquem ecoansiosos, mas que saibam o que é realmente valioso e logo será escasso. Tento ensinar a eles o valor da palavra regeneração.”
Gisele Mirabai, mãe de Diana, 12 anos, e Davi, 10.
“Penso em clima todos os dias há 20 anos. As emoções vão de melancolia, com a eleição de um ‘negacionista’, por exemplo, à euforia por uma vitória judicial do ativismo climático, um bom cartum ou texto sobre o tema, ou um vídeo de Greta Thunberg cantando. Meus sentimentos oscilam e ficam mais à flor da pele. Prever é difícil, sobretudo o futuro, dizia o físico Niels Bohr. O mundo futuro pode ser melhor, ou mesmo trágico.”
Matthew Shirts é pai de Lucas, 40, Maria, 34, Samuel, 21, e avô de Otto, 8.
“Quando estava grávida passei a refletir sobre a frase que eu ouvia há tempos e dizia ‘que mundo vamos deixar para os nossos filhos?’, invocando nossa responsabilidade pela preservação dele. Passou a parecer inversão de valores e conclui que era mais importante saber que filhos deixaremos para o mundo, pois ele ficará, nós que precisamos assimilar a força dele e criar filhos que saibam disso.”
Tatiana Nascimento, mãe dos gêmeos Cecília e Frederico, 14 anos.
“Nossa maior virtude enquanto espécie é nossa desgraça: o ser humano se adapta a tudo. A crise climática já está aqui e nos adaptaremos reduzindo danos numa realidade já terrível. Enquanto isso temos que descobrir um jeito de acabar com o capitalismo. Sou um otimista, mas a longo prazo.”
Pedro Guerra, pai do Santiago, 20, do Martin, 15, e padrasto da Eva, 12.
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