
Morre o jornalista Marcelo Beraba – 28/07/2025 – Poder
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- 28/07/2025
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Morreu, nesta segunda-feira (28), Marcelo Beraba, referência do jornalismo da Folha, aos 74 anos. Ele estava internado no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, onde tratava um câncer no cérebro.
Em sua primeira passagem pela Folha, nos anos 1980, Beraba foi um dos responsáveis por estruturar as coberturas da Redação, ajudando a viabilizar então recém-implementado projeto editorial do jornal, crítico, pluralista e apartidário.
O jornalista comandou grandes coberturas, orientou reportagens investigativas e estimulou o surgimento de novos talentos. Em quase três décadas no jornal, foi repórter, diretor da sucursal do Rio de Janeiro, editor de política e do suplemento Diretas-Já, além de Secretário de Redação, ombudsman e repórter especial.
Foi também um dos fundadores e o primeiro presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Antes de se aposentar em 2019, ocupou os cargos de diretor da sucursais do Rio de Janeiro de Brasília e de editor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo, onde trabalhou por 11 anos.
“Marcelo Beraba tinha o costume de chamar a todos os colegas de Redação de ‘mestre’, mas era ele o professor de jornalismo, que ensinou a mais de uma geração princípios de ética, profissionalismo e precisão. Fará falta imensa”, afirma Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha. O vocativo, usado tantas vezes, acabou virando apelido dele próprio.
Na Folha, começou como repórter da sucursal do Rio de Janeiro, cujo comando assumiu em 1985. No cargo, coordenou a cobertura do vazamento da Usina Nuclear em Angra dos Reis e a revelação do buraco na Serra do Cachimbo, concebido como instalação atômica.
Mudou-se em 1988 para São Paulo. Na capital paulista, Beraba foi editor de cidades e de política, coordenando também o suplemento Diretas-Já, em 1989, ano da primeira eleição presidencial depois de 21 anos de ditadura militar, com uma disputa entre 22 candidatos.
Correspondendo à importância daquela cobertura, a equipe do suplemento era composta por 60 jornalistas. Os colegas reconheciam a organização de Beraba, que chegou a deixar duas edições preparadas para o impresso, em 15 de novembro de 1989: uma com o cenário de Lula contra Collor no segundo turno e outra com um cenário de indefinição sobre quem concorreria com Collor.
Na década de 1990, assumiu o cargo de editor-executivo do Jornal do Brasil e teve breve passagem em O Globo. De volta à Folha, foi novamente diretor da sucursal do Rio, entre 1999 e 2004, ano em que se tornou ombudsman do jornal. Em entrevista ao programa Observatório da Imprensa, concedida há uma década, Beraba avaliou o impacto da internet nas redações.
“Tem esse desafio de você organizar a edição para tentar de alguma organizar esse caos, essa confusão, com leitores que pegaram uma coisinha daqui e dali e acham que estão informados”, afirmou Beraba. “E tem o desafio do aprofundamento da informação, a qualificação do jornalista foi ficando cada vez uma exigência em função de uma audiência mais qualificada do que a audiência mais antiga.”
Em setembro de 2002, abalado com o assassinato de seu amigo, o também jornalista Tim Lopes, Beraba disparou um email para outros 40 colegas, sugerindo a criação de uma associação em defesa da liberdade de expressão, do acesso a informações públicas e da formação profissional. Era o início do que viria a ser a Abraji.
“Tim Lopes é orgulho da Abraji. Ao mesmo tempo, tenho certeza de que ele estaria nos exigindo mais ainda do que nós fizemos”, afirmou Beraba, em um depoimento à associação, publicado há 12 anos.
“A liberdade de expressão estava bastante associada também à questão do Tim. Não só sob o ponto de vista jurídico, mas sob o ponto de vista físico, a liberdade para se trabalhar, para passar as informações. São evidentes os problemas que temos até hoje, com a continuação de assassinatos e ameaças.”
Em 2005, Beraba recebeu, em Washington, nos Estados Unidos, o Prêmio Excelência em Jornalismo do ICFJ (International Center for Journalism). “Jornalismo é conjunto, é equipe, é troca. Sempre achei. A riqueza do jornalismo está no conjunto”, disse Beraba na entrevista ao Observatório da Imprensa.
Ele deixa a mulher, a jornalista Elvira Lobato, quatro filhos e três netos.