Matemáticos no poder – 17/06/2025 – Marcelo Viana

Matemáticos no poder – 17/06/2025 – Marcelo Viana

No dia 8 de maio, o conclave elegeu o norte-americano Robert Francis Prevost, 69, como papa Leão 14. Bacharel em matemática pela Universidade Villanova da Pensilvânia, ele é o segundo matemático na história a ascender ao trono de São Pedro: o primeiro foi o francês Gerbert d’Aurillac (946-1003), que reinou sobre a Igreja Católica de 999 a 1003, como Silvestre 2º.

Enquanto Prevost desenvolveu toda a sua trajetória de vida no domínio da religião, D’Aurillac teve impacto científico substancial, como inventor, inovador e defensor da introdução na Europa do sistema decimal indo-arábico de numeração.

Em 9 de junho, o candidato moderado Nicusor Dan, 55, virou as eleições no segundo turno, tornando-se o primeiro matemático presidente da Romênia. O talento de Dan para a disciplina foi reconhecido bem cedo e ficou amplamente consagrado quando ganhou a medalha de ouro em duas edições consecutivas da Olimpíada Matemática Internacional, a mais antiga e competitiva competição escolar do mundo.

Na verdade, Dan fez muito mais: nas duas ocasiões gabaritou a prova, alcançando o “perfect score” de 42, que é muito raro. Em 1988, a prova incluía uma questão extradifícil, que só foi resolvida por 1% dos competidores, entre os quais Dan e o vietnamita Ngô Bao Chau, que viria a ganhar a medalha Fields, maior prêmio no nosso campo (mas Chau não teve “perfect score” nesse ano).

Após se graduar pela Universidade de Bucareste, Dan foi para Paris, onde completou o mestrado pela renomada École Normale Supérieure, em 1995, e o doutorado pela Universidade de Paris, em 1998, com uma tese em geometria aritmética. Regressado a seu país, tornou-se pesquisador da Academia Romena de Ciências e ajudou a fundar a Escola Normal Superior de Bucareste, inspirada na congênere francesa. O ativismo na defesa da ciência na Romênia o levou à vida pública, culminando na sua eleição como presidente.

Esses dois eventos muito raros, no mero espaço de um mês, fizeram-me meditar sobre a contribuição dos matemáticos ao governo das nações. O Brasil tem um pouco dessa história: afinal, Joaquim Gomes de Souza (1829-1864), nosso primeiro matemático, foi eleito deputado geral pelo Maranhão em 1856, sendo reeleito cinco anos depois.

O imperador francês Napoleão Bonaparte foi matemático praticante quando jovem: mais tarde lamentava-se que as obrigações da governação não lhe permitissem. Não é surpresa que tenha sido particularmente receptivo à participação de matemáticos no seu governo, tais como Joseph Fourier (1768-1830), governador de departamento, e Simeon Poisson (1781-1840), que atuou no Ministério da Educação.

Tenho que confessar que nem sempre deu muito certo: Napoleão também nomeou Pierre-Simon de Laplace (1749-1827) ministro do interior, e o demitiu menos de seis semanas depois. “Geómetra de primeira categoria, Laplace logo se mostrou um administrador mais do que medíocre”, escreveu o imperador nas suas memórias. “Só tinha ideias problemáticas, buscava sutilezas em tudo e trouxe para a administração pública o conceito do infinitamente pequeno.”


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Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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