
Lula deveria sair do palanque e ligar para Trump – 28/07/2025 – Joel Pinheiro da Fonseca
- Política
- 28/07/2025
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Brics, big techs, terras raras, satélite chinês. A cada dois ou três dias alguém chega com uma nova teoria sobre qual seria o “real interesse” americano no tarifaço contra o Brasil. Eu prefiro ficar com a resposta de Trump, a única que explica sua carta-ameaça original, suas falas posteriores e as sanções anunciadas por Marco Rubio: seu real desejo é mesmo salvar Bolsonaro. Como sair dessa?
Outros países já conseguiram acordos. A situação deles —que não sofreram chantagem político-jurídica— é mais fácil que a nossa. Ainda assim, pode guardar algumas lições.
Muito tem se falado que o acordo entre União Europeia e EUA é ruim para os europeus. Tanto pela tarifa padrão, que ficou em 15% (antes, girava em torno de 1,5%), quanto pelas exigências trilionárias de compra de energia e investimentos.
Talvez tenha sido o melhor possível. Primeiro porque as tarifas de 30% ameaçadas por Trump seriam muito mais destrutivas. Segundo porque se criou uma categoria de bens com tarifa zero, que pode ser expandida. Terceiro porque muito há de ser decidido na discussão minuciosa dos termos, que, por correr fora dos holofotes, também não deve atrair a atenção de Trump.
Trump se preocupa mais em alimentar sua vaidade, ser tratado como vencedor, do que com qualquer conquista real. No recente acordo com o Japão, já se revelou que os termos que pareciam muito benéficos aos EUA —e que foram anunciados por Trump— são bem diferentes do que se alardeou.
Lembremos do início do mandato: quando Trump ameaçou o México com tarifas, algumas concessões simbólicas por parte da presidente Claudia Sheinbaum bastaram para ele voltar atrás. Abaixar a cabeça, adotar uma postura pragmática e negociar sem arroubos de ufanismo funciona melhor com Trump do que escalar o conflito. Quando, por outro lado, o presidente da Colômbia despertou seus brios nacionalistas para enfrentar Trump, foi atropelado.
Trump é um líder personalista. Construir uma relação com ele é parte importante de qualquer negociação com os EUA. É o que fez o primeiro-ministro britânico Keir Starmer que, como Lula, é um líder de esquerda. Sua postura foi pragmática desde o início. A primeira conversa entre ele e Trump se deu antes mesmo da eleição americana: ainda na campanha eleitoral, quando Trump sofreu o atentado, Starmer ligou para prestar solidariedade. Quando da vitória, o primeiro-ministro novamente se prontificou em ligar para dar os parabéns. Agora, o Reino Unido tem o melhor acordo com os EUA.
Já no Brasil, nos últimos de campanha Lula falou que uma vitória de Trump seria “nazismo e fascismo com outra cara”. Os meses se passaram se passaram sem nenhuma conversa entre os dois. Em 10 de julho, quando perguntado por que não tinha se encontrado com Trump nem uma vez, Lula disse que “não tinha assunto”.
Esse é o passado. Agora, enquanto Alckmin, senadores e outros buscam negociar sem sucesso, Lula oscila entre falas apaziguadoras e desafios grandiloquentes. A produção brasileira e milhares de empregos correm risco. É hora de Lula engolir seu orgulho, mudar definitivamente o tom e buscar Trump. A ligação tão negligenciada por nosso presidente esse tempo todo pode ser a única coisa capaz de reverter ou adiar o pior. Talvez não dê em nada; mas é o que um líder responsável faria.
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