
Jovens estão infartando cada vez mais cedo. Médicos explicam por que
- Saúde
- 07/07/2025
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O infarto, antes associado a idosos, tem atingido cada vez mais pessoas com menos de 40 anos no Brasil. De 2022 a 2024, foram mais de 234 mil atendimentos relacionados à condição nessa faixa etária, segundo dados do Ministério da Saúde.
Os especialistas alertam que o aumento está ligado a fatores que poderiam ser evitados. Tabagismo, colesterol alto, hipertensão, obesidade, diabetes, uso de drogas e anabolizantes são os principais gatilhos para infartos precoces.
“A maioria dos jovens que infartam já apresenta algum fator de risco modificável. O infarto não vem ‘do nada’, como muitos imaginam”, explica o cardiologista Rafael Côrtes, do Hospital Sírio-Libanês e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Ele destaca que o cigarro continua sendo o maior vilão nessa faixa etária, mas chama atenção para o avanço do uso de esteroides anabolizantes. “Mesmo pessoas saudáveis, que usam hormônios para fins estéticos ou esportivos, podem ter risco até três vezes maior de infartar”, ensina.
O cardiologista Arthur Felipe Giambona Rente, da Rede D’Or São Luiz, reforça o impacto do estilo de vida na saúde do coração e chama atenção para o avanço dos cigarros eletrônicos entre os mais jovens. “O vape também tem efeito negativo sobre o sistema cardiovascular”, afirma.
Homens são maioria
De acordo com dados do Ministério da Saúde, nos últimos três anos, foram registrados mais de 156 mil procedimentos ambulatoriais e hospitalares por infarto agudo do miocárdio em homens com até 40 anos no Brasil.
Entre as mulheres da mesma faixa etária, o número ultrapassa 77 mil. A maioria das ocorrências se concentra entre os 31 e 40 anos, mas também há registros em adolescentes e até crianças.
Os procedimentos hospitalares envolvem internações e tratamentos especializados, enquanto os ambulatoriais englobam consultas, exames e atendimentos que não exigem internação. Os números não se referem a pacientes, ou seja, uma mesma pessoa pode gerar mais de um registro.
Nos últimos três anos, os infartos causaram mais de 7,8 mil mortes de pessoas com menos de 40 anos no país. Em 2022, foram 2.720 óbitos; em 2023, 2.609; e, em 2024, 2.536 até o momento. São Paulo lidera o número de mortes no período, com 2.490 registros, seguido pelo Rio de Janeiro, com 622.
Pandemia agravou fatores de risco
Outro fator que contribuiu para o aumento de infartos entre jovens foi a pandemia de Covid-19. “A média de tempo sentado aumentou em duas horas por dia, a atividade física despencou e houve piora na alimentação, no sono e nos níveis de estresse. Essas mudanças favoreceram o acúmulo de gordura visceral, a mais inflamatória, associada a infarto precoce”, esclarece Cortês.
Rente acrescenta que o próprio coronavírus pode ter efeitos diretos no sistema cardiovascular. “Vários estudos internacionais mostraram aumento de eventos cardíacos mesmo entre pessoas jovens e sem doenças prévias. A infecção pode provocar inflamações nos vasos e no coração”, diz.
Além disso, durante o isolamento social, muitos deixaram de fazer consultas ou exames, o que atrasou diagnósticos e impediu a detecção precoce de fatores de risco.
Desigualdade também pesa no risco
As taxas de infarto e de mortalidade variam de acordo com o território e a condição socioeconômica. Regiões como Norte e Nordeste, que enfrentam maiores barreiras de acesso à saúde, concentram mais casos fatais.
“Essas desigualdades impactam tanto o risco de desenvolver a doença quanto a chance de sobreviver a um infarto. Jovens de baixa renda muitas vezes chegam tarde ao hospital, em piores condições, e nem sempre recebem o tratamento ideal”, alerta Côrtes.
Para Rente, combater o infarto em jovens exige políticas públicas mais abrangentes. “Não basta tratar quem chega ao hospital. É preciso investir em prevenção, especialmente nas comunidades mais vulneráveis, onde o acesso à informação e ao cuidado é limitado”, pontua o especialista.
O que pode ser feito?
Para os especialistas, frear a tendência de infarto precoce exige ações em diversas frentes. Entre elas, estão campanhas educativas nas escolas, incentivo a hábitos saudáveis desde a infância e combate ao uso de substâncias como cigarro, drogas e anabolizantes.
Na prática médica, o foco deve estar na identificação precoce dos fatores de risco, especialmente entre jovens com histórico familiar de doenças cardíacas. “Precisamos olhar com atenção para quem tem pressão alta, colesterol elevado ou sinais de uso de substâncias”, finaliza Rente.
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