Irã utiliza criminosos para realizar vigilância sobre opositores
- Internacional
- 28/11/2024
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Nos últimos anos, o Irã tem intensificado suas atividades de vigilância e repressão contra dissidentes e opositores políticos, não apenas em seu território, mas também em países da União Europeia (UE) e no Reino Unido.
Para realizar tal ato, segundo informações divulgadas por jornais europeus, o regime iraniano, autoritário e repressivo, tem recorrido até mesmo ao uso de grupos criminosos, que se tornam agentes infiltrados que ficam responsáveis por monitorar e intimidar iranianos que vivem exterior e se opõem à ditadura de Teerã. Esta ação expõe a existência de uma rede de espionagem clandestina e de repressão do regime dos aiatolás que se estende além das fronteiras iranianas.
A parceria com criminosos e a infiltração nas comunidades
Segundo o think tank Washington Institute, o regime iraniano, através de sua força de inteligência e serviços de sabotagem, estabeleceu uma rede de colaboração com grupos criminosos que atuam no submundo do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, com o objetivo de realizar uma vigilância mais “eficaz” e, em muitos casos, intimidar suas vítimas. Esse tipo de aliança entre o regime e o submundo do crime não é uma novidade, cita o Washington Institute, mas tem se tornado cada vez mais frequente nos últimos anos, especialmente com o crescimento do número de dissidentes iranianos que têm buscado refúgio na Europa e no Reino Unido.
De acordo com fontes de inteligência, estes grupos criminosos são pagos e orientados para localizar opositores do regime que vivem fora do Irã. As ações, contudo, não se limitam apenas a interceptações físicas, mas também envolvem vigilância digital, hackeamento de dispositivos e até mesmo campanhas de difamação contra figuras políticas ou ativistas iranianos exilados. Com a vigilância cada vez mais intensa, o Irã tenta, por meio dessas práticas, desestabilizar e silenciar aqueles que se opõem à teocracia islâmica.
Espionagem digital e ataques cibernéticos
Na União Europeia, ativistas que defendem direitos humanos e exilados políticos têm sido alvo de ameaças constantes, e seus meios de comunicação, frequentemente, são invadidos ou hackeados para impedir a disseminação de informações contra o regime dos aiatolás.
A natureza dessas operações de vigilância e repressão tem se expandido. Recentemente, segundo o Washington Institute, fontes apontaram que o regime iraniano usou intermediários no Reino Unido para espionar e ameaçar dissidentes, muitas vezes com o uso de métodos violentos, como agressões físicas e sequestros. Isso tem gerado uma crescente preocupação entre autoridades de segurança de diversos países, que agora monitoram de perto essas atividades.
Em outubro, durante a apresentação de um relatório sobre segurança interna, Ken McCallum, chefe do MI5, o serviço de inteligência britânico, disse que desde o assassinato de Mahsa Amini em 2022, o Reino Unido presenciou uma série de conspirações promovidas pelo regime do Irã “com uma rapidez e escala sem precedentes”.
“Desde janeiro de 2022, em parceria com a polícia, respondemos a 20 conspirações apoiadas pelo Irã, que apresentavam ameaças potencialmente letais para cidadãos britânicos e residentes no Reino Unido”, afirmou McCallum, acrescentando que “[…] os atores estatais iranianos fazem uso extensivo de criminosos como intermediários – de traficantes internacionais de drogas a criminosos de baixo nível” para realizar perseguição contra dissidentes.
“Em dezembro passado, um homem foi preso por espionagem que realizou contra a então sede da organização de mídia Iran International. Detectar criminosos dispostos a serem manipulados por estados tem algumas semelhanças com identificar terroristas em potencial que dançam conforme a música de radicalizadores online. É um desafio familiar. Continuaremos a encontrá-los”, disse McCallum.
Uma das formas mais eficazes de vigilância adotadas pelo Irã tem sido a espionagem digital. O regime islâmico possui uma sofisticada rede de hackers, muitas vezes ligados diretamente ao poder em Teerã, que tem como alvo tanto dissidentes individuais quanto organizações que criticam a ditadura. Por meio de ataques cibernéticos, o regime iraniano consegue acessar dados sensíveis, como documentos pessoais, comunicações privadas e informações de atividades políticas. Esses dados são usados para emboscar os opositores, tanto física quanto psicologicamente, em uma tentativa de silenciá-los.
Além disso, a vigilância cibernética do Irã tem se tornado um problema crescente para as autoridades europeias, já que a tecnologia de hackeamento e monitoramento utilizada pelo país é cada vez mais sofisticada.
A rede de influências iranianas no exílio
Além de suas operações clandestinas, o regime iraniano tem ampliado sua rede de influências no exterior. Isso inclui tanto a manipulação de comunidades iranianas em países ocidentais quanto a infiltração em organizações de direitos humanos. O objetivo é criar uma rede de apoio às suas políticas, ao mesmo tempo que fragmenta e neutraliza os grupos que buscam combater o autoritarismo de Teerã.
Essas ações também incluem o apoio financeiro a certos grupos dentro da diáspora iraniana, oferecendo recursos para reforçar a propaganda governamental ou para manipular a opinião pública. Através dessas táticas, o Irã busca aumentar sua presença internacional e enfraquecer a resistência aos seus métodos repressivos.
Opositores estão assustados
Dissidentes iranianos que vivem no exterior se veem, frequentemente, à mercê de uma vigilância constante. Muitos alegam que suas comunicações são monitoradas e que suas famílias no Irã são ameaçadas. A sensação de insegurança e a constante pressão psicológica fazem parte da vida de muitos opositores que foram forçados a deixar suas casas e viver como exilados.
Em muitos casos, o medo de represálias é tão forte que alguns dissidentes optam por não se envolver em atividades políticas abertas, limitando suas ações a pequenos grupos e com grande cautela. Outros buscam apoio das autoridades locais, mas enfrentam o desafio de provar que estão sendo alvos de um regime estrangeiro, o que nem sempre é fácil devido à natureza clandestina dessas operações.