Escolas têm que criar alternativas no recreio sem celular – 12/02/2025 – Educação

Escolas têm que criar alternativas no recreio sem celular – 12/02/2025 – Educação

Sem os celulares, a escola poderá rapidamente se tornar um ambiente melhor. Para isso, no entanto, é preciso debater com os estudantes e com as famílias o processo do banimento dos smartphones. Não só para definir regras práticas, como o armazenamento dos aparelhos, mas para pensar o que será oferecido às crianças e aos jovens para ajudá-los a reconstruir a socialização.

A opinião é da pedagoga Cisele Ortiz, coordenadora-adjunta do Instituto Avisa Lá, que faz formação continuada de educadores.

Nesta entrevista à Folha, ela explica o que considera os problemas causados pelos smartphones no ambiente escolar e aponta caminhos para resolvê-los.

Que mudanças nos alunos foram percebidas pelos educadores ao longo dos últimos anos como consequência do uso dos smartphones nas escolas?

Em primeiro lugar, perceberam que os alunos passaram a apresentar uma distração enorme na aula. E as pesquisas mostram como a redução na capacidade de concentração, memorização na para a solução de problemas.

Depois, começaram a observar mudanças no recreio. O clima de bullying e provocação aumentou. As meninas, principalmente, passaram a viver um grau de cobrança e competição grande. “Será que estou bem nessa selfie?” O intervalo virou momento de tirar selfie. As relações não estavam mais sendo estabelecidas entre eles, mas com o universo digital. Isso dilui o vínculo entre as crianças e os jovens, o que faz com que os conflitos e a tensão entre eles aumentem. Também ficou evidente o aumento do uso de jogos, o que se tornou ainda mais grave e arriscado com as apostas online.

Os professores reclamam muito de ter que passar a aula toda pedindo para os alunos guardarem os celulares. Outro problema grave é que os alunos tiram fotos e filmam colegas e professores sem pedir autorização. Essas imagens viram memes, chacotas, que são compartilhadas online, e isso gera violência. Muitas vezes a criminalidade juvenil está ligada ao bullying que surgiu com o uso dos smartphones.

Tratar da violência nas escolas é olhar para esse desrespeito que se ampliou entre eles

Uma aluna de uma escola em que o celular foi banido no começo do ano passado comentou comigo que agora se sente muito mais tranquila, no ambiente escolar e nas excursões, porque sabe que não vai virar meme a qualquer momento.

Imagine a gravidade de não estar relaxado, de não poder se dedicar a situações prazerosas do cotidiano na escola em razão do risco de poder ser atacado sem saber… Várias situações nas escolas, mesmo brigas, que poderiam ser administradas naquele ambiente, acabam sendo veiculadas online, o que gera mais tensão em todos.

As escolas e as famílias precisam agora conversar sobre todos esses motivos que levaram às restrições do uso do celular, inclusive nos passeios escolares.

É preciso criar uma estratégia para implementar o não uso do celular, pensar sobre esse processo com os alunos e com as famílias, realizar debates e expor as evidências científicas sobre as consequências do uso excessivo do celular nas escolas.

Os alunos precisam entender, por exemplo, que o fato de poderem ser fotografados a qualquer momento na escola, mesmo quando não querem, gera ansiedade. E que também ficam ansiosos se comparando com os outros nas redes sociais e querendo saber o que estão falando sobre eles o tempo todo. Será que queremos que nossos estudantes e filhos passem por isso? Esse debate tem que ser feito nas escolas.

Alguns professores temem que a pressão para o banimento do celular recaia sobre eles, que poderão ter de fiscalizar os alunos e retirar os aparelhos em caso de uso. Há relatos de estudantes mais viciados que são violentos nesses momentos.

O professor não pode ser responsável por isso sozinho. As regulamentações das leis dos celulares nas escolas devem prever uma gestão para isso. As escolas têm que pensar, com toda a comunidade escolar, como isso será feito, se o celular será retirado na entrada, na sala de aula, para quem o aparelho será entregue, como será guardado.

É preciso planejar esse período de adaptação, bem como formas de acompanhar e avaliar os benefícios de se retirar o celular. Portanto, é ideal que se faça um diagnóstico inicial. Como estavam os alunos quando o celular foi retirado, inclusive em termos de envolvimento com as aulas e de aprendizagem, e como ficaram um tempo depois?

A sra. acredita em uma melhora rápida nas escolas sem os celulares?

Sim, acredito que logo teremos uma melhora na relação entre as crianças e os jovens, no respeito deles com o professor e no interesse pelo aprendizado. Mas é preciso pensar sobre o tempo deles na escola, especialmente no horário integral, como oferecer alternativas, especialmente nos intervalos, recreios e tempo vago.

A escola sem o celular deve ser o local de ampliação cultural para os estudantes, com atividades complementares, com alternativas para brincar, praticar esportes, se socializar. Alguns exemplos são grupo de coral, teatro, jogos de tabuleiro, RPG, clube de leitura, grêmio estudantil. Vamos conversar com os alunos para pensar o que podemos trazer para os momentos livres deles nas escolas, para reconstruir a coletividade.


RAIO-X | Cisele Ortiz, 69

Nascida na capital paulista, é psicóloga formada pela USP. Trabalhou como professora, coordenadora e diretora de escola por 12 anos. Foi coordenadora do programa Nossas Crianças, da Fundação Abrinq, e professora de pós-graduação do Instituto Singularidades, de formação de professores e gestores escolares. Desde 1996, atua como coordenadora-adjunta do Instituto Avisa Lá, coordenando programas de formação continuada de educadores.

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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