Época de cheia é chance de conhecer Alter do Chão gastando menos – 16/07/2025 – Turismo

Época de cheia é chance de conhecer Alter do Chão gastando menos – 16/07/2025 – Turismo

Pergunte a um borari —nome dado aos nascidos ou radicados em Alter do Chão em referência à etnia que ocupa a região— qual a sua época favorita do ano e ele dirá “o inverno”. É o oposto do que pensam os forasteiros. Basta uma rápida pesquisa ou uma conversa com quem já esteve lá para que o turista seja orientado a visitar Alter apenas no verão —é nessa época que as praias aparecem, afinal.

Isso porque o rio Tapajós, que banha o distrito (oficialmente, Alter do Chão integra o município de Santarém) e diversas comunidades ribeirinhas, muda drasticamente nas duas estações. No período de seca, o recuo das águas é significativo, dando espaço para as faixas de areia e formando as numerosas e belíssimas praias e pontas de areia que dão fama à região e atraem um bom número de turistas. No inverno, a chuva na bacia do Tapajós aumenta e dá volume ao rio: a diferença costuma ser superior a sete metros.

Com o rio cheio, quase todas as praias ficam submersas, dando a Alter outra cara —uma cara que vale a visita, tanto quanto na alta temporada (quiçá mais), que começa em setembro, quando as águas estão mais baixas. As vantagens do inverno (sudestino) são muitas. Para começar, o calor é mais ameno —não se engane, o tempo continua quente, mas o sol castiga menos. As chuvas aparecem, mas costumam ser pancadas rápidas intercaladas com momentos ensolarados. O fluxo de turistas diminui, o que faz com que os passeios e opções de hospedagem fiquem mais baratos.

Para quem faz questão de pegar uma praia, há uma faixa de areia permanente na ilha do Amor, que fica logo em frente à orla de Alter. Na seca, a faixa é mais extensa e agrega turistas que se espalham pelos diversos bares da ilha. Na cheia, vê-se apenas os telhados da maior parte dos bares, mas ainda é possível curtir a uma pontinha de praia com o apoio dos poucos bares que permanecem secos. É fácil chegar lá: logo na orla, vários barqueiros oferecem a viagem por R$15 ou R$20 o trecho.

A ilha do Amor abriga a serra da Piroca ou Piraoca. O nome é controverso: os registros mais antigos apontam Piroca, que seria “calvo” ou “pelado” na língua indígena nheengatu. A grafia Piraoca teria surgido mais tarde, tendo também um significado em nheengatu (peixe + casa), mas provavelmente mais usado para evitar o duplo sentido. De qualquer forma, vale a pena subir lá. A serra tem uma trilha rápida, de apenas 2 km, que não exige a presença de um guia e leva ao topo do morro —uma altura de pouco mais de cem metros. De lá, tem-se uma bela vista de Alter e do Tapajós.

Quem visita o distrito na cheia tem passeios exclusivos da época. Um deles é a visita à Floresta Encantada, no bairro Caranazal. Com solo lodoso, a mata não é acessada no verão, mas pode ser navegada no inverno, quando fica alagada. O trajeto é feito de canoa, passando por entre as árvores. Algumas delas têm placas de identificação e são detalhadas pelos canoeiros.

É possível colher frutos nas próprias árvores ou mesmo na água —caso do jará (pequeno fruto do jarazeiro, um tipo de palmeira) e do bacuri (fruto redondo e amarelo com sabor ácido, que lembra o limão). O passeio pode durar 30 minutos (R$ 70) ou uma hora (R$ 100), se incluir tempo para banho de rio. Na volta, vale comer no Espaço Caranazal e dar mais um mergulho no rio enquanto o pedido não chega.

Alter do Chão fica a 36 km de Santarém. Entre as duas localidades, a imensidão dos rios guarda um canto pequeno (para padrões amazônicos), mas cheio de vida: o canal do Jari, formado por águas dos rios Tapajós, Arapiuns e Amazonas. Trata-se de um ponto que difere das outras regiões de Alter, especificamente pela presença do Amazonas, gigante barrento, que carrega mais sedimentos e nutrientes e agrega grande biodiversidade.

Região de várzea, o Jari segue a regra local, com mudanças drásticas na paisagem durante a seca e a cheia. O acesso é possível nos dois períodos, mas, como ocorre em outras regiões, a cheia permite que se navegue até os destinos finais. Para se ter uma ideia, na seca, as lanchas rápidas chegam até determinado ponto. Depois, é preciso pegar uma embarcação menor, apta a circular em cursos d’água mais rasos. Por fim, ainda é preciso caminhar sobre solo lodoso para visitar algumas das atrações.

A cheia também traz a vantagem de deixar os visitantes mais próximos da fauna e da flora. Logo na navegação pelo Jari, a Folha observou, de perto, alguns animais —a exemplo de uma iguana no topo de uma árvore— e veria tantos outros em sua primeira parada: a trilha das Preguiças.

Ponto obrigatório de visitação, a trilha fica na propriedade de Rosângela Siqueira, que integra a quarta geração a habitar o local. A casa de Rosângela é uma atração turística por si só. Sobre palafitas, o imóvel serve de apoio para visitantes que chegam ali e logo recebem as boas-vindas de macaquinhos interesseiros, ávidos pelas bananas sempre disponíveis nas lanchas turísticas. Basta uma banana na mão para atraí-los —e eles sobem mesmo nas pessoas, mas são inofensivos e rendem momentos divertidos.

A entrada da casa é uma sala aberta com diversos artesanatos à venda feitos por ribeirinhos das comunidades vizinhas, algumas peças curiosas (como um imenso crânio de um jacaré da região) e um cafezinho para boas-vindas. Os mais curiosos podem pedir para ver outros cômodos da casa, que Rosângela apresenta de bom grado. Vale a pena circular pelos espaços amplos, de madeira, com o rio abaixo do piso e a vista espetacular do Jari.

Do trapiche em frente à casa, embarca-se na canoa com Rosângela, que rema pela trilha das preguiças (R$ 30). Moradora do local desde que nasceu, ela conhece tudo. No caminho, dá informações sobre as árvores e tem o olhar afiado para encontrar animais em meio às folhas. Para ajudar os turistas, ela leva um ponteiro laser que ajuda na visualização. No passeio, é possível ver as preguiças que dão nome à trilha movendo-se muito lentamente entre um galho e outro, além de diversos pássaros como a cigana, com seu topete castanho e seu canto rouco, ou o urutau (ou mãe-da-lua), que se camufla nos troncos de árvores.

Não muito longe dali, outra casa de palafitas atrai turistas para o Jari, também pela natureza no entorno mas, principalmente, pela natureza no prato. Trata-se do restaurante de Dulce Oliveira, que faz pratos à base de vitória-régia. O trabalho de Dulce é conhecido —já rendeu a ela menções na imprensa e visitas de outros cozinheiros destacados, como o conterrâneo Thiago Castanho.

Anteriormente vista como ornamental, a vitória-régia não era consumida por humanos. Dulce, no entanto, observou o consumo por outros animais e decidiu testar o comportamento da planta na cozinha. Assim, desenvolveu mais de 20 receitas, de entradas a pratos principais, como moqueca e espaguete. No menu degustação (R$ 30) servido à Folha, havia opções como salgadinho (próximo à batata palha), tempura com molho de tucupi, quiche, massa de pizza, rabanada, geleia, brownie e até pipoca, feita a partir das sementes da planta.

O cultivo das vitórias-régias é feito no jardim da casa de Dulce —era um belo espaço com grandes exemplares da planta, fundo incontestável das fotos dos visitantes que passaram por lá. A violenta seca do último verão, no entanto, fez com que toda a plantação fosse perdida. Hoje, a cozinheira conta com o apoio de comunidades vizinhas para obter o ingrediente e manter a produção. Ao mesmo tempo, recomeça o cultivo aos poucos, e espera poder plantar as primeiras mudas no próximo verão, quando a água baixar.

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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