Eduardo Bolsonaro critica Tarcísio: Um desrespeito comigo – 14/07/2025 – Poder

Eduardo Bolsonaro critica Tarcísio: Um desrespeito comigo – 14/07/2025 – Poder

Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirma que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), errou ao tentar negociar uma saída para as tarifas de 50% com a Embaixada dos Estados Unidos. “É um desrespeito comigo”, disse à Folha.

“Nós já provamos que somos mais efetivos até do que o próprio Itamaraty. O filho do presidente, exilado nos Estados Unidos. Queria buscar uma alternativa lateral. É um desrespeito comigo. Mas eu não estou buscando convencimento da população, eu estou buscando pressionar o Moraes.”

Eduardo afirma ainda que não se arrepende da pressão que fez por retaliações ao Brasil nos EUA mesmo que isso possa favorecer o presidente Lula (PT). Diz também que só voltará ao Brasil se o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sofrer sanções do governo dos Estados Unidos.

Cotado como candidato a presidente no ano que vem, Tarcísio buscou remover o desgaste diante da crise do tarifaço anunciado por Donald Trump e, na semana passada, fez uma rodada de conversas que passou por Bolsonaro, por ministros do STF e pelo chefe da embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

O governo Lula tem associado as consequências econômicas do tarifaço à oposição, inclusive a Tarcísio, aliado de Bolsonaro.

Na mesma entrevista à Folha, Eduardo diz que “provavelmente” vai abrir mão do mandato na Câmara. Ele pediu licença do mandato em março, e o afastamento vence na próxima semana.

Antes de falar à reportagem, ele afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que “por ora” não volta. “A minha data para voltar é quando [o ministro do Supremo Tribunal Federal] Alexandre de Moraes não tiver mais força para me prender.”

Procede sua decisão de abrir mão do mandato?

Olha, eu ainda tenho assessores me dando alguns inputs aqui, mas, se for preciso… Eu não consigo bater o martelo porque, se eu tiver uma alternativa para não perder, eu não vou perder. Mas o prazo termina 21 ou 22 de julho, se não me engano, final do mês de julho. Se for necessário, eu não volto, não. E não vejo a possibilidade de eu voltar, porque, se eu voltar, eles chamam para me prender. Mas muito provavelmente [vou abrir mão].

Quais são as opções que você tem?

O [deputado] Evair de Melo [PP-ES] fez uma proposta de alteração do regimento que valeria para casos excepcionalíssimos como o meu, para que eu consiga exercer o mandato mesmo à distância, fazendo votação por telefone e celular. Foi uma inovação trazida durante a pandemia.

Qual é a chance de isso dar certo?

Não sei. O nosso pessoal que está articulando dentro da Câmara.

Qual é o seu desejo?

O meu desejo seria de ter um país normal onde o deputado não fosse preso por falar ou por se relacionar com autoridades internacionais. O meu desejo é que um deputado de direita tenha o mesmo direito de um deputado de esquerda. Porque, no passado, [o deputado federal Guilherme] Boulos foi a Portugal, o [ministro do STF Cristiano] Zanin, por exemplo, fez campanha do Lula livre em diversos tribunais internacionais, já fizeram pedido de prisão do Jair Bolsonaro no TPI [Tribunal Penal Internacional], e nunca deu em nada. Só que, ao que parece, querem tirar o Bolsonaro da corrida presidencial e a possibilidade de eu sucedê-lo também.

Então, se o Brasil é um país que faz política desse jeito, o Judiciário é que faz política, então significa que não há uma harmonia entre os Poderes, e o Brasil não é uma democracia, é uma ditadura. E será dado a ele o tratamento de ditadura. Engana-se quem acha que pode viver numa ditadura e ter os benefícios do mundo livre. E o Trump não usou força total. Ele poderia ter feito muito mais.

Qual é a força total? O que ele pode fazer?

Ele pode chegar ao extremo de fazer igual a [o que fez com a] Rússia.

Ameaçar com 100% de tarifas?

Ele congelou o acesso da Rússia ao sistema swift [sistema financeiro global] inteiro, proibiu empresas americanas de fazerem investimento na Rússia, de receberem investimento russo. Ele congelou bem de um monte de oligarca russo. Na verdade, foi o [ex-presidente dos EUA Joe] Biden. Mas eu estou querendo dizer o seguinte: o governo americano tem muito mais instrumentos mais sensíveis do que tarifa de 50%. Trump já avisou na carta dele. Ele vai adicionar isso ao percentual da “tarifa Moraes” de 50%, que totalizaria um total de 100% de tarifa.

Agora seu desejo é permanecer como deputado?

Só para voltar… O Congresso aprovou uma lei inócua. E me causa estranheza gente da direita apoiar o projeto de lei da reciprocidade, porque ainda dá a oportunidade de o Lula dizer que está agindo em nome das instituições brasileiras, do povo brasileiro inteiro, porque foi um projeto aprovado com o apoio de muita gente da direita. Um projeto que teve a iniciativa da senadora Tereza Cristina.

Agora o senhor está sendo muito criticado, inclusive por alguns integrantes da própria direita, que não estão dando suporte a essas tarifas. O próprio Zema, por exemplo, veio a público dizer que as tarifas não são positivas, o Tarcísio…

O Zema e o Tarcísio vieram a falar isso depois de declarações iniciais, muito mais firmes, e vieram a falar isso provavelmente depois de conversas de telefone, né? Não tenho como comprovar, mas eu acho que eles tomaram alguma pressão. Principalmente o Zema. O STF está correndo pelos bastidores para pressionar empresários brasileiros e políticos brasileiros a tentar jogar a culpa disso tudo.

Só que o Trump foi muito claro. Ele está colocando as tarifas por causa de quê? Regulamentação das big techs. Eles mandaram recado para os americanos de regulamentar a internet independentemente daquilo que os americanos pudessem fazer em retaliação. Então agora segura a onda.

Então agora é hora de ser homem, assumir a responsabilidade e entender que o que o Trump está pedindo são ações do Judiciário brasileiro, regulamentação da internet, eleições limpas e transparentes e parar com a perseguição a Bolsonaro e seus apoiadores.

É por isso que eu tenho batido na tecla de que não é uma questão do Lula O Lula vai dobrar a aposta, o Lula é irresponsável, o Lula não tem compromisso com o interesse público. Ele vai querer jogar o Brasil no colo da China e da Rússia, ele está achando maravilhoso tudo isso, vendo como uma possibilidade única de ele tentar resgatar a popularidade dele. E o que eu tenho falado? Deixa o Lula de lado. Esqueça o Lula. O Lula vai morrer sozinho politicamente. O foco é no Moraes.

De toda forma, com relação ao Zema e o Tarcísio, essa foi a posição final deles. Neste domingo o próprio Jair Bolsonaro admitiu que as tarifas não seriam benéficas para o país, fazendo ali um apelo por recurso. Então existe algum tipo de arrependimento nessa sua atitude?

Nenhum. O que não é benéfico para o país é continuar jogando velhinha na cadeia, é continuar ligando para o presidente do partido quando tem que votar a manutenção de prisões de Daniel Silveira. Para resolver o problema, tem que atuar na causa, e a causa é institucional. Ou o Brasil se comporta como uma democracia ou vai ser [tarifa] de 50% a mais.

Embora você diga que não é sobre o governo Lula, o governo está explorando isso amplamente. Tem gente falando de um efeito Mark Carney [primeiro-ministro do Canadá] no Brasil, quer dizer, dizendo que isso poderia favorecer o Lula e ser um tiro no pé para a direita. Como responde a isso?

São comparações indevidas, porque no Brasil a eleição é em 2026. Existe uma situação que é diferente da do Canadá, dessa crise institucional que a gente vive, de perseguição política etc. Agora tudo tem um risco. Se for retirada da equação essa tarifa, o Brasil vai voltar a ter aquele caminho de uma eleição sem a participação da oposição em 2026. Vai ter apenas uma oposição permitida.

Você está se referindo ao Tarcísio?

Estou falando de qualquer um que o sistema deixasse elegível para o ano que vem. Por que eles estão querendo me prender? Por que o Jair Bolsonaro está inelegível?

Governo e Judiciário são firmes em dizer que não haverá recuo.

Então, antes de melhorar vai ter que piorar. Eu nunca vi o Trump voltar atrás. O Trump já teve sucesso nas negociações com o [ex-primeiro ministro Justin] Trudeau no Canadá, com o México, no Irã nem se fala. Então, eu não creio que o Brasil será o primeiro país a ter sucesso contra o Trump.

E que perspectiva de melhora seria essa?

Ele, pelo que eu entendi, vai aplicar em 1º de agosto só as tarifas de 50% e depois vai ficar fazendo reanálise.

E se até 2026 continuar o mesmo cenário?

Aí é Venezuela. Eu vou começar a receber os brasileiros aqui nos Estados Unidos, ajudar eles com o processo de visto.

Em momento algum, então, o senhor acha que essa foi uma decisão equivocada?

Não acho. Acho que está muito acertado. E, no final, quando a gente sair vitorioso, as pessoas vão se dar conta disso.

Como espera convencer a população se houver aí uma avaliação de que a maior parte está contra as tarifas pelos efeitos que elas podem causar economicamente para o país e no próprio bolso?

Mas eu não estou buscando convencimento da população, eu estou buscando pressionar o Moraes. Se o Moraes entende que vale a pena trancar a velhinha de 70 anos na cadeia, tratando como terrorista, condenados a 14, 15, 16 anos, é o preço que o país vai pagar. Não depende mais de mim. Eu não tenho poder sobre o Trump, acho que nem a esposa dele tem poder sobre ele.

A única saída para o Brasil se livrar dessa tarifa é com o Alexandre de Moraes recuar. Dentre os vários pontos que o Trump botou, a primeira sinalização efetiva de que há uma vontade de sentar para negociar a tarifa com os americanos é aprovar a anistia.

Como se chegou a essa solução por tarifas? Porque até então o senhor falava em sanções específicas.

Foi uma decisão do Trump.

Mas essa foi uma sugestão que vocês deram a ele?

Não, foi uma decisão do Trump. Acho que a maneira que ele achou é a maneira mais efetiva de se fazer pressão.

E as sanções estão sobre a mesa?

Sim, sim. Isso daí continua a correr em paralelo.

E a sua expectativa é que elas saiam?

Sim, eu tenho uma expectativa de que saia sim. Eu acho importante ressaltar o seguinte. Se a Lei Magnitsky for aplicada, já existe margem para você aplicar para além do Moraes. Ele pode aplicar para cima da esposa do Moraes, para cima do Fábio Schor [delegado da PF], para cima de outras autoridades brasileiras. Então, se as autoridades brasileiras quiserem se presentar e antever esse caso de caos para elas próprias, individualmente, é providencial que elas leiam a carta do Trump e ajam rápido para desarmar essa bomba.

O julgamento do Marco Civil foi importante para acelerar essa decisão?

Eu acho que foi muito importante.

O senhor conversou com o seu pai sobre esse assunto? Qual é a posição dele?

Não falo por ele. Ele está refém do sistema. É bom falar com ele, porque é muita responsabilidade eu falar em nome dele.

E o senhor conversou com o Tarcísio?

O Tarcísio utilizou os canais errados. O filho do presidente está nos Estados Unidos. O Tarcísio não tem nada que querer costurar por fora uma decisão que provavelmente vai chegar a mais um acordo caracu [expressão popular usada quando apenas um dos lados da parceria sai prejudicado]. O Tarcísio tem que entender que o filho do presidente está nos Estados Unidos e tem acesso à Casa Branca.

Qualquer tentativa de nos dar bypass será brecada e freada. Nós já provamos que somos mais efetivos até do que o próprio Itamaraty. O filho do presidente, exilado nos Estados Unidos. Queria buscar uma alternativa lateral. É um desrespeito comigo.

E sua pretensão de ser candidato a presidente? Tem chance ainda?

Só se o Moraes for sancionado. Senão não tem como. Se eu voltar para o Brasil hoje, eu sou preso. Mas eu acho que tem esperança de ele ser sancionado e a gente conseguir ter sucesso.

Se ele for sancionado, qual vai ser o efeito disso?

Ficará enfraquecido.

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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