
Descaso com Copa América reflete rotina de sul-americanas – 26/07/2025 – Esporte
- Esporte
- 27/07/2025
- No Comment
- 4
Denunciados por jogadoras da seleção brasileira, os problemas estruturais da Copa América realizada em Quito, no Equador, não são exclusividade da competição que caminha para a disputa das semifinais a partir de segunda-feira (28). Falta de profissionalização, ligas nacionais com poucos times e, em alguns casos, semiamadoras refletem o descaso com o futebol feminino em todas as partes do continente.
Sede da décima disputa entre seleções sul-americanas, o Equador só passou a ter uma liga nacional para as mulheres em 2019, quando a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) exigiu que todos os clubes que disputem a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana tenham uma equipe feminina adulta e uma de base, inscritas em ao menos um torneio oficial.
Antes disso, a modalidade no país era essencialmente amadora, com algumas competições universitárias e regionais. Em 2013, a Federação Equatoriana de Futebol organizou o primeiro Campeonato Nacional de Futebol Feminino, mas o projeto não avançou. Sem uma ligação direta com as agremiações tradicionais do futebol masculino, a entidade teve dificuldade para atrair patrocinadores.
Mesmo com o lançamento da Superliga Feminina em 2019, os desafios persistem. Nas três primeiras temporadas, a maioria dos jogos não teve qualquer tipo de transmissão, nem mesmo pela internet. A invisibilidade midiática afastou investimentos e limitou a profissionalização. A quantidade de clubes também caiu: de 22 em 2019 para 12 em 2025. Apenas o campeão se classifica para a Libertadores.
Essa realidade se repete em outros países, como mostrou o estudo “Nosotras Jugamos”, conduzido entre novembro de 2022 e outubro de 2023 por Fifpro (o sindicado global dos jogadores), Anjuff (a associação nacional de jogadoras do Chile) e Universidade do Chile. O levantamento foi feito a partir de entrevistas com 1.171 jogadoras da primeira divisão de Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e Equador.
De acordo com os pesquisadores, apenas 24% das jogadoras dos países citados se dedicam de forma exclusiva ao futebol —as demais têm uma segunda atividade econômica. Pouco mais da metade, 54%, tem vínculos informais com seus clubes (acordos verbais ou apenas inscrição em federações). Cinco em cada dez, ou 49%, recebem até um salário mínimo do país em que atuam ou menos. E 27% não recebem nenhum tipo de remuneração fixa.
Ainda de acordo com o estudo, apenas 33% treinam em campos com todas as condições adequadas, 25% não têm acesso a duchas com água quente nos vestiários, 21% não têm plano de saúde, e 27% pagaram integral ou parcialmente custos ocasionados por lesões.
De acordo com os pesquisadores, 73% das atletas relataram ter sofrido algum tipo de assédio sexual durante a carreira, 42% temem ser assediadas, 85% relataram ter passado por algum tipo de discriminação por gênero e 42% observaram preconceito por classe social, etnia ou orientação sexual.
“É por isso que pedimos a criação de padrões mínimos de condições, tanto para competições internacionais quanto para torneios locais, a fim de torná-los mais atraentes, atrair o setor privado e gerar um círculo virtuoso de profissionalismo”, disse Camila García, vice-presidente do Fifpro e diretora da Anjuff.
Dois anos após o estudo, a Copa América 2025 escancara os mesmos problemas. O principal foco das críticas tem sido o estádio Gonzalo Pozo Ripalda, que concentrou nove dos dez jogos do Grupo B. Com o gramado desgastado, a Conmebol proibiu o aquecimento no campo, obrigando seleções a improvisar espaços dentro de vestiários apertados, sem ventilação e ocupado simultaneamente por duas delegações.
“Havia muito tempo que eu não jogava um campeonato aqui na América do Sul. Ficamos tristes com essas situações. Cobram desempenho das atletas e um nível alto de trabalho, mas também temos que cobrar um alto nível de organização”, reclamou Marta.
Após a repercussão, a Conmebol ajustou o protocolo: a partir da terceira rodada, todas as equipes passaram a ter 15 minutos de aquecimento no gramado. A medida corrigiu parte do problema, mas não o todo. Com ingressos a partir de US$ 3 (R$ 16,76), a média de público está abaixo de 300 torcedores. A premiação também não evoluiu: US$ 1,5 milhão (R$ 8,3 milhões) para a campeã, o mesmo valor pago em 2022. O VAR (árbitro de vídeo) só será utilizado na fase final.
A disputa das semifinais começará na segunda-feira (28), com o duelo entre Argentina e Colômbia. Na outra chave, o Brasil vai encarar o Uruguai na terça (29).
As partidas do mata-mata serão disputadas no estádio Rodrigo Paz Delgado, também conhecido como Casa Blanca, com capacidade para 41.575 pessoas. Inaugurada em 1997, a casa da LDU oferece melhores condições para as atletas em relação ao palco utilizado na primeira fase.