Como escolas são construídas para evitar calor extremo? – 28/07/2025 – Educação

Como escolas são construídas para evitar calor extremo? – 28/07/2025 – Educação

Quando o premiado arquiteto Francis Kere crescia em Burkina Fasso ele passava os dias de escola em uma sala de aula sombria e tão sufocante que, segundo ele, seria mais adequada para fazer pão do que para educar crianças.

Anos depois, enquanto estudava no exterior, Kere retornou à sua aldeia natal para construir uma escola iluminada e arejada, onde as crianças pudessem aprender com conforto, apesar das temperaturas que podem chegar a 45 graus Celsius, na região.

O arquiteto não usou ar-condicionado. Em vez disso, ele incorporou uma série de recursos de resfriamento à Escola Primária Gando e, desde então, aplicou em outros projetos por toda a África.

Kere, que ganhou a maior honraria da arquitetura, o Prêmio Pritzker em 2022, está entre os arquitetos pioneiros em projetos escolares sustentáveis para um planeta em aquecimento.

“Minha própria escola era tão quente que era difícil eu me concentrar”, disse ele à Reuters.

“Então, eu queria construir uma escola que fosse confortável e inspiradora para as crianças.”

Estudos em diferentes países como Brasil e Vietnã mostram que o calor impacta significativamente a aprendizagem. Em um relatório do ano passado, o Banco Mundial alertou que as mudanças climáticas estavam ameaçando o sucesso educacional, criando uma “bomba-relógio econômica”.

Especialistas dizem que as salas de aula não devem ter temperatura superior a 26°C.

Em Gando, os moradores ficaram inicialmente chocados quando Kere anunciou que construiria a escola de barro, mas o material é um regulador natural de temperatura, absorvendo calor durante o dia e liberando-o à noite.

Concreto e vidro laminado podem parecer contemporâneos, mas Kere disse que eles tornam os edifícios quentes, necessitando de ar-condicionado.

Isso cria um círculo vicioso. Ar-condicionados com alto consumo de energia, que expelem ar quente para o exterior, contribuem para o aquecimento global, o que, por sua vez, alimenta a demanda por mais ar-condicionados.

Em vez disso, Kere utiliza técnicas de resfriamento passivo.

As salas de aula de Gando têm aberturas em ambas as extremidades, gerando ventilação cruzada. Um telhado suspenso, elevado acima de um teto inferior perfurado, melhora a circulação de ar e sombreia a fachada.

No Quênia, o projeto de Kere para um campus universitário foi inspirado em cupinzeiros, que usam ventilação natural para regular a temperatura interna. Aberturas baixas nos prédios sugam ar fresco, enquanto torres em tons de terracota permitem que o ar quente escape.

MUDANÇA SOCIAL

A cerca de 8 mil km de distância, no deserto de Thar, no noroeste da Índia, as temperaturas atingiram 48°C este ano. A vegetação é escassa e tempestades de areia são comuns.

A Escola para Meninas Rajkumari Ratnavati, um grande edifício oval de arenito que se ergue no deserto do Rajastão, foi projetada pela arquiteta nova-iorquina Diana Kellogg.

A orientação e o formato do edifício permitem que os ventos predominantes circulem pela escola, enquanto o reboco de cal nas paredes internas proporciona um efeito refrescante adicional.

As paredes treliçadas, inspiradas nas tradicionais telas jali indianas, aceleram o fluxo de ar devido a um fenômeno chamado efeito Venturi. A escola também funciona com energia solar e coleta água da chuva suficiente para suas necessidades.

As temperaturas internas são até 10°C mais baixas do que as externas, contribuindo para a alta frequência escolar, disse Kellogg.

Assim como Kere, ela acredita que uma boa arquitetura pode incentivar a mudança social.

O Rajastão tem a menor taxa de alfabetização feminina da Índia, mas Kellogg disse que a escola transmite uma forte mensagem sobre o valor das meninas.

“Isso elevou a posição delas na comunidade”, disse. “As meninas se orgulham de frequentar a escola e a chamam de ‘a Faculdade’.Quando eu a visito, os meninos dizem: ‘Construam uma para nós’.”

ESCOLAS VERDES

Até mesmo países de clima temperado estão buscando maneiras de resfriar escolas, já que as mudanças climáticas trazem ondas de calor mais frequentes.

O Reino Unido afirmou que os novos prédios escolares devem ser preparados para um aumento de temperatura de 4°C.

Suas escolas da era vitoriana, com grandes janelas e tetos altos, são mais adequadas a ondas de calor do que as escolas mais novas, projetadas para manter o calor dentro de casa.

Mas a educação não acontece apenas em ambientes fechados. Os playgrounds também são importantes para o desenvolvimento das crianças, e muitas cidades estão tentando torná-los mais verdes.

As áreas urbanas podem ser de 4°C a 6°C mais quentes do que as áreas rurais, mas o plantio de árvores reduz as temperaturas por meio do sombreamento e da liberação de vapor d’água.

Paris pretende converter todos os pátios escolares asfaltados em oásis verdes até 2050.

Outra solução envolve tinta fria. Enquanto países como a Grécia há muito pintam os telhados dos edifícios de branco, os cientistas agora trabalham em revestimentos de alta tecnologia que podem superar os condicionadores de ar.

Da tecnologia de resfriamento geotérmico ao vidro inteligente, engenheiros estão desenvolvendo sistemas e produtos cada vez mais sofisticados para controlar temperaturas.

Mas a arquiteta alemã Anna Heringer disse que arquitetura sustentável significa trabalhar com materiais locais.

Heringer, que projetou escolas de Bangladesh a Gana, é conhecida por construir com barro -um material de baixa tecnologia com desempenho de alta tecnologia.

“Se você perguntar aos agricultores, eles dirão que uma casa de barro é fresca no verão”, disse Heringer, acrescentando que o barro equilibra a umidade.

“Arquitetos muitas vezes tentam ser técnicos demais, mas às vezes, as soluções estão à nossa frente.”

Na Tanzânia, moradores locais contaram que construíram casas de concreto para obter status, mas iam para cabanas de barro para dormir à noite.

Ao contrário da percepção popular, paredes de barro não se dissolvem na chuva, disse Heringer. Existem técnicas simples para prevenir a erosão e um processo natural de cristalização fortalece as paredes ao longo do tempo.

“O barro foi rotulado como um material frágil, mas em todas as culturas e climas, temos prédios de barro com centenas de anos”, disse Heringer, acrescentando que as escolas que ela construiu há 20 anos exigiram pouca manutenção.

Algumas salas de aula em suas escolas têm ventiladores movidos a energia solar, mas não há ar-condicionado. Além de consumir energia, alternar constantemente entre o calor e o frio pode prejudicar a saúde das crianças, disse ela.

Kere, cujas encomendas internacionais incluem o novo prédio do parlamento de Benin e o futuro Museu de Arte de Las Vegas, disse que seu estúdio recebe muitas perguntas sobre construção com barro e resfriamento passivo.

“Há uma grande mudança”, disse ele. “Isso nunca teria acontecido há apenas alguns anos.”

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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