
Como é viajar para Miami em meio às tarifas de Trump – 16/07/2025 – Zeca Camargo
- Turismo e Viagens
- 16/07/2025
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A chuva torrencial, quase apocalíptica, tinha passado havia uns 15 minutos em Miami. O mormaço subia quente no Urderline, um novo parque urbano que nem existia quando estive aqui pela última vez, dez anos atrás.
Voltei a Miami está semana para brincar mais uma vez de ser DJ numa festa nesse parque. Essa minha nova “vocação”, turbinada pelo TikTok, me serviu de álibi para passar por lá bem nessa época talvez turbulenta.
Coisas da geopolítica, eu diria. Fato é que eu me vi tocando nessa tarde quente de domingo em Miami, para brasileiros (mas não só) que passeavam pelo Underline. E por alguns momentos era como se o mundo lá fora não existisse.
Por “mundo lá fora”, é claro, quero dizer uma guerra tarifária entre Brasil e EUA que vai muito além de déficits e superávits. Para além dessa discussão, só quero pontuar que, ao contrário do que eu discretamente temia, vivi bons momentos em Miami.
E não só na tal festa. Turista ávido, espremi meu tempo para me conectar de novo com as coisas boas na cidade: seus sons, seus sabores, sua arte.
De cara percebi que não era a mesma cidade que visitei em 2015. Uma caminhada por Brickell, a região onde fiquei, e um passeio de barco, de onde vi o novo skyline de Miami, me provaram que tudo tinha mudado, ficado mais interessante.
Comecei a explorá-la desta vez pelo One Thousand Museum, prédio projetado pela consagrada arquiteta iraquiana Zaha Hadid. Eu nunca cobicei tanto morar num lugar! As famosas curvas de Hadid sobre uma paisagem incrível me fizeram sonhar alto!
Para não me distrair demais, andei dali até o Museu Pérez, o PAM, para me conectar com o melhor não apenas da arte latina contemporânea.
Desta vez o PAM me apresentou o universo extraordinário do eslovaco-argentino Gyula Kosice, que me serviu como uma chave: você pensa que já viu tudo? Está na hora de você dar um “reload” geral.
E assim saí por Miami ainda mais curioso. No Museu Vizcaya, por exemplo, lugar já visitado mais de uma vez, me encantei com um espaço externo que reproduz um navio em pedra, no meio das águas de seu terraço.
Em South Beach elegi uma nova fachada art déco favorita, a do hotel Penguin. No museu Rubell, mergulhei em instalações infinitas de Yayoi Kusama. Na gastronomia, troquei os restaurantes estrelados pelas ventanitas, os comedores onde você faz seu pedido pelas janelas.
E fiz tudo com um sorriso no rosto. No noticiário, a temperatura das diferenças entre Brasil e EUA só subia. Nas minhas redes sociais chegaram a me perguntar por que eu visitava Miami justamente nesse período de discórdia.
Tentei responder com as imagens que fiz por lá. De alegria. E de esperança de que nossa curiosidade por outras culturas permaneça sempre acima de diferenças passageiras.
Tempos de cólera, talvez. Mas nessa curta viagem, a única turbulência mesmo foi a tempestade relâmpago que caiu antes de abrir minha playlist com “Downtown”, de Anitta e J Balvin.
Que, aliás, tem um verso no seu refrão que traduz bem esses meus dias em Miami: “Se quiser, venha e fique pra mais uma vez”.
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