Chuvas no RS: área rural faz bolo de 1 ano sem reconstrução de ponte

Chuvas no RS: área rural faz bolo de 1 ano sem reconstrução de ponte

  • Brasil
  • 28/06/2025
  • No Comment
  • 33

As comunidades rurais de Sítio dos Melos, Sítio Alto, Santos Anjos, localizadas em Faxinal do Soturno, e de Ivorá, no Rio Grande do Sul, vivem há pouco mais de um ano em situação de isolamento, desde que a ponte no Km 32 da ERS-348 foi levada pelas enchentes de maio de 2024. Agora, o estado gaúcho sofre novamente com as inundações.

A estrutura ligava os dois municípios da zona central do Rio Grande do Sul e era fundamental para o acesso a serviços essenciais. Formadas por pequenos agricultores, as comunidades dependem da estrada para chegar à cidade, escoar a produção e manter atividades básicas de saúde e educação.

Leia também
  • Brasil

    Cidade no RS tem enchente pior que a de 2024: “Sensação de impotência”
  • Brasil

    RS: rios sobem e preocupam cidades já afetadas por enchentes de 2024
  • Brasil

    Morre herói do período das enchentes no Rio Grande do Sul
  • Brasil

    Bebê resgatado de helicóptero durante enchente no RS morre após 1 ano

No começo, a comunidade buscou alternativas, conta Alceu Barchet, morador de Sítio dos Melos. “Colocamos um barco nosso para fazer a travessia, porque dependíamos do acesso para buscar remédios, roupa, comida. Depois, conseguimos montar uma travessia com madeira, eucalipto”, relembra o agricultor, de 67 anos.

Segundo ele, o Exército chegou a instalar uma ponte provisória sobre o Rio Guarda-Mor, que banha a região, mas ela era retirada sempre que havia previsão de chuva. “Ficávamos isolados. E assim fomos levando, sempre com promessas do governo estadual de que a obra de reconstrução da ponte ia começar, mas passou mais de um ano e nada foi feito”, reclama.

Enchente de 2024

  • A maior enchente já registrada no Rio Grande do Sul, entre abril e maio de 2024, deixou um rastro de destruição por todo o estado.
  • Com 183 mortes confirmadas e 27 pessoas ainda desaparecidas, a tragédia afetou diretamente a vida de mais de 800 mil gaúchos.
  • Dos 497 municípios, 484 foram atingidos pelas águas, que invadiram casas, comércios, rodovias, estádios e equipamentos públicos essenciais.

Foi então que, no domingo (22/6), os moradores das cinco comunidades decidiram se reunir às margens do rio, onde a nova ponte deveria estar. Eles levaram balões, cartazes e um bolo para marcar o ano de espera pela reconstrução da estrada.

“Surgiu a ideia do bolo [de aniversário] como ‘homenagem’ a um ano de espera e sacrifício. A gente quis também homenagear a união entre as comunidades. Foi uma manifestação pacífica. Nosso objetivo era mostrar às autoridades a nossa dependência dessa travessia. O nosso objetivo é bem claro: alcançar a ponte, não importa de que lado político seja. A obra é urgente”, reivindica Alceu.

3 imagensFechar modal.1 de 3

Arquivo pessoal cedido ao Metrópoles2 de 3

Arquivo pessoal cedido ao Metrópoles3 de 3

Arquivo pessoal cedido ao Metrópoles

O objetivo era pressionar o governo estadual a cumprir o compromisso de iniciar imediatamente a construção da nova ponte, cuja conclusão havia sido prometida, inicialmente, para o fim deste ano.

Prejuízos para as comunidades

O agricultor Alceu conta que os moradores da região rural dependem da ponte no Km 32 da ERS-348 para tudo: “Levar nossos produtos, acessar saúde, educação… Toda a parte social e a economia da comunidade estão sendo afetadas todos os dias.”

Laura Meneghetti, de 8 anos mora em Sítio dos Melos, mas estuda na Escola São Domingo Sávios, em Santos Anjos. A mãe dela, Liza Meneghetti, alega que, para a filha conseguir ir à aula sem a ponte, é preciso atravessar dois rios em uma rota alternativa.

“A gente ainda continua sem a ponte, mas consegue sair da comunidade por rotas alternativas para trabalhar e levar as crianças à escola — só que com muita dificuldade. O acesso está horrível. Precisamos atravessar dois rios, o que torna tudo muito complicado, e as crianças ficaram vários dias sem aula por causa da enchente”, relata Liza.

Veja:

Segundo a professora Jeruza Bulegon, a falta da ponte também impede o socorro feito por ambulâncias na região. “Aconteceu de pessoas terem de ser carregadas de caçamba até uma parte do trajeto em que fosse possível encontrar a ambulância, porque não tem por onde passar”, conta.

Jeruza explica que, quando o desvio está intransitável, o trajeto entre Ivorá e Faxinal do Soturno pode chegar a mais de 50 km. “E, se alguém fica doente muitas vezes, acaba falecendo antes de o socorro chegar. É tudo muito longe e, em alguns trechos, não passam dois carros. Fica muito complicado”, lamenta.

Chuvas 2025 reacendem alerta

Com a chegada de um novo período chuvas intensas no estado, comuns entre os meses de abril e julho, e a volta das consequências dos temporais e alagamentos, as comunidades rurais banhadas pela bacia do Rio Guarda-Mor e que tentam ainda se recuperar das enchentes de 2024, voltam a se sentir vulneráveis.

Alceu conta que a cheia recente prejudicou ainda mais os agricultores da região, já que, desde o ano passado, produtos da lavoura e árvores estão no leito do Rio dos Melos, que irriga a região. A água acabou sendo redirecionada pelos rejeitos.

“Todo o material que saiu das lavouras, das margens que a gente tinha arborizado, foi parar no leito. O que acabou abrindo vários outros caminhos e, agora, a água passa pelo meio das terras. Vamos depender de máquinas pesadas para poder restaurar nossas pequenas lavouras, mas como é que vai entrar, se nem estrada tem?”, questiona.

Apesar disso, o agricultor afirma que outra grande preocupação da comunidade é a chegada do verão, entre dezembro e março. “Como é um rio pequeno e sem leito definido, a chance de faltar água é enorme. Vamos ser muito prejudicados na irrigação. É algo que estamos prevendo.”

O trecho alternativo que liga os municípios de Ivorá e São João do Polêsine a Faxinal do Soturno está intransitável no momento, já que o desvio feito pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) foi levado pelas águas das fortes chuvas que atingiram o estado na última semana.

O que diz o governo estadual

O Metrópoles procurou o governo do Rio Grande do Sul para esclarecer a situação da ponte no Km 32 da ERS-348, levada pela enchente de 2024.

Entre os questionamentos enviados à gestão estadual estão o atual status da reconstrução da ponte na ERS-348, o motivo de ela ainda não ter sido iniciada e quais medidas estão sendo tomadas para garantir o acesso das comunidades até a conclusão da obra.

Em resposta, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) informou que as obras da ponte da ERS-348, no Km 32, em Faxinal do Soturno, estão previstas para começar no segundo semestre de 2025, com conclusão estimada até o fim de 2026.

O investimento para a nova estrutura, que terá 120 metros de extensão, mão dupla, e será 2,5 metros mais alta do que a anterior, é de R$ 11,7 milhões.

O projeto, que segundo o departamento foi entregue à comissão de engenheiros responsável pela análise técnica, é baseado em estudos hidrológicos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “que consideram os efeitos das mudanças climáticas e o risco de eventos extremos, como os registrados em 2024, para que, futuramente, possam resistir a possíveis novos eventos extremos.”

Em relação ao início das obras, o Daer explica que a maioria das soluções foi aprovada, mas que ainda são aguardadas justificativas por parte da empresa contratada quanto à proposta de fundação, com estaca-raiz de 19 metros de profundidade na rocha, “o que não é usual nesse tipo de obra.”

Por fim, o departamento reforça que a recomposição do aterro sobre o arroio Guarda-Mor foi concluída, “o que permite o tráfego de veículos no local até a conclusão da nova ponte.”



Fonte Original do Artigo: www.metropoles.com

Postagens Relacionadas

Chefe de RH flagrada com CEO em show do Coldplay também se demite

Chefe de RH flagrada com CEO em show do…

Chris Martin se surpreende com reação de casal em show do Coldplay Kristin Cabot, a diretora de RH da Astronomer que…
Idoso é preso por furtar 12 pacotes de café em supermercado de Aparecida

Idoso é preso por furtar 12 pacotes de café…

PREÇO ALTO Ao todo,12 pacotes de café e três bandeijas de mussarela estavam escondidas dentro da calça do idoso. Ele já…
Haddad pede que Bolsonaro deixe governo negociar com EUA

Haddad pede que Bolsonaro deixe governo negociar com EUA

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (24) que a família Bolsonaro precisa “sair do caminho” para que o…