Bunkers de Berlim viram galerias, museus e baladas – 20/11/2024 – Turismo
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- 27/11/2024
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No passado, Berlim chegou a ter mais de mil refúgios antiaéreos —um legado pesado que a Segunda Guerra Mundial deixou na cidade. Quase 80 anos depois do fim desse período da história, os alemães agora ressignificam essas cicatrizes.
Os espaços que um dia serviram para proteger a população das bombas foram transformados e ganharam outras funções. Na capital alemã, centenas de bunkers foram destruídos, outros desativados e alguns reconvertidos em espaços de ócio que viraram monumentos históricos, museus, galerias de arte, bares e até mesmo boates.
Passear pela cosmopolita Berlim é quase como pular para dentro de um livro de história. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi muito bombardeada pelos aliados e cerca de 80% da sua infraestrutura foi destruída. No período, quando as sirenes nas ruas tocavam avisando que um bombardeio estava prestes a começar, as pessoas tinham só 15 minutos para correr até um refúgio.
Galeria de arte
Nas esquinas das ruas Reinhard e Albrecht não há placas ou qualquer sinal que avise que dentro desse edifício de cimento, que um dia foi branco, há dezenas de obras de arte. O Sammlung Boros é um bunker berlinense que virou galeria.
Com cinco andares, sem janelas e uma capacidade para abrigar até 2.000 pessoas em caso de bombardeios, esse refúgio foi construído pelos nazistas. Antes de virar galeria de arte, nos anos 1990 foi também lugar de balada techno, o Club Bunker.
Atualmente, três mil metros quadrados e 80 salas exibem a coleção privada de Karen e Christian Boros. Há cerca de 500 obras de arte contemporânea de artistas como Ai Weiwei, Olafur Eliasson ou Alicja Kwade.
Uma curiosidade é que os Boros moram na cobertura do prédio. As visitas guiadas ao museu acontecem de quinta a domingo e custam cerca de R$ 110 por pessoa.
Restaurante e música eletrônica
No badalado distrito Mitte, embaixo de uma ponte, encontramos uma porta. A entrada que fica bem perto da estação Friedrichstrasse é discreta e ninguém poderia imaginar que lá dentro tem muita festa.
O Tausend é uma mistura de bar e restaurante que se transforma em pista de dança de quinta a domingo até às 5h da manhã. Com pratos que custam cerca de R$ 155, locais e turistas matam a fome e se divertem nesse antigo refúgio antiaéreo com as performances de DJs que comandam baladas ao som de tecno e house.
Museu
Em 1942, um refúgio antibomba foi construído ao lado da estação de metrô Anhalter Bahnhof para que viajantes e trabalhadores pudessem se esconder ali dentro. Inicialmente, o bunker foi feito para proteger 3.500 pessoas, mas no fim da guerra chegou a receber até 12 mil.
Hoje chamado de Berlin Story Bunker reúne muitos objetos, fotos, filmes e a mostra “Hitler: Como Isso Aconteceu?”, que conta em detalhes o que foi o Terceiro Reich.
Esse museu é um lugar para aprender, reviver e refletir sobre um dos piores momentos da história do nacionalismo alemão. A entrada custa cerca de R$ 75 e a visita completa dura em torno de 3 horas.
Tour subterrâneo
Muitos refúgios antiaéreos ficavam na parte de baixo das estações de metrô e, graças a associações como a Berliner Unterwelten, hoje é possível visitar um deles.
Descendo as escadas do metrô Gesundbrunnen, ao atravessar uma pesada porta de metal verde, entramos em um labirinto subterrâneo. Banheiros, enfermarias, muitas salas e uma infinidade de corredores protegiam os moradores enquanto as bombas caíam do lado de fora.
Placas, fotos e objetos vão contando uma parte muito importante da história, e os tours em vários idiomas mostram detalhes e curiosidades de como era a vida de quem passou esses anos com medo.
Caminhando por esse mundo subterrâneo, ficamos sabendo qual era a capacidade de cada sala. Os números pintados nas paredes mostram quantas pessoas podiam ficar ali dentro ao mesmo tempo, já que a ventilação era limitada.
“O que muita gente não sabe é que um bunker tem que ser à prova de bombas; já um refúgio, nem sempre”, diz o guia Christian Lutiral, que comanda essa visita há 15 ano. “Muitos civis entravam dentro de refúgios como este pensando que estariam protegidos, mas a proteção era realmente mínima. Depois dos bombardeios todo mundo tinha que sair.”
No tour podemos ver objetos como um capacete de metal que acabou virando um coador ou uma bomba que foi transformada em estufa —afinal de contas, a época de guerra é um período economicamente difícil para muita gente.
Durante o percurso, vemos vitrines que exibem curiosas máscaras de gás que eram vendidas para a população. Os visitantes mais detalhistas podem ver até mesmo os preços desses itens —uma máscara dessas custava o equivalente a R$ 300, uma quantia alta para a época.
Em outras salas encontramos curiosidades como um objeto que parece uma máquina de escrever mas, na verdade, servia para mandar mensagens secretas a outros militares. Ao teclar um número, do outro lado uma letra era impressa.
A Berliner Unterwelten oferece tours em diversos idiomas, mas por enquanto não há nenhum em português. Eles custam cerca de R$ 100 por pessoa e duram ao redor de 1h30.
O estacionamento mais visitado do mundo
Além dos pedaços que continuam em pé do Muro de Berlim, o ex-refúgio do ditador alemão, o Führerbunker, é um dos locais mais visitados da cidade. É um lugar que a Alemanha gostaria que tivesse caído no esquecimento, mas que ironicamente acabou virando um ponto turístico.
O bunker onde Hitler viveu seus últimos meses de vida e onde se suicidou é hoje apenas um estacionamento. O abrigo antiaéreo que ficava embaixo do jardim da Chancelaria terminou de ser construído em 1944 e, depois da guerra, foi totalmente destruído e hoje é um espaço vazio que tem apenas uma placa e um escuro passado.
A oito metros de profundidade, o esconderijo tinha 540 metros quadrados e cerca de 30 salas. Com paredes supergrossas que chegavam a até quatro metros de espessura, o complexo ficava bem próximo dos ministérios de Assuntos Exteriores e de Propaganda. Na verdade, eram dois bunkers: um para os serviços administrativos e burocráticos do ditador e outro para ele e sua esposa.
O esconderijo contava com várias salas, quartos, cozinha e um sofisticado sistema de ventilação o que permitiu que Hitler vivesse vários meses embaixo da terra.
“O bunker de Hitler tinha ventilação e uma forte proteção para resistir aos impactos das bombas. O espaço também contava com energia elétrica própria e abastecimento de água, o que permitia que ele morasse ali dentro. Bem diferente dos refúgios do resto da população que eram lugares só de passagem”, diz Christian Lutiral.