Aldo: Português e indígena construíram família brasileira – 24/10/2024 – Mônica Bergamo
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- 24/10/2024
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Ex-comunista e hoje integrante do grupo que fez aliança política com Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais de São Paulo, Aldo Rebelo foi uma das estrelas de um jantar oferecido pelo cineasta Josias Teófilo e Newton Cannito na noite de quarta-feira (23).
O encontro reuniu lideranças bolsonaristas e membros do setor cultural em apoio à candidatura de Ricardo Nunes (MDB) e contra a influência do que chamam de “identitarismo” no país.
Rebelo discursou aos convidados contra a prerrogativa do “lugar de fala”, citando os poemas de Castro Alves contra a escravidão, e afirmou que São Paulo é “palco onde a batalha tem que ser decidida porque é o berço dessa civilização [brasileira]”.
“Foi aqui que os primeiros portugueses e as primeiras indígenas construíram essa família brasileira”, seguiu o ex-ministro, que também foi secretário de Relações Internacionais da gestão Nunes.
O jantar foi marcado por discursos fervorosos contra pautas identitárias. O vereador recém-eleito Adrilles Jorge (União Brasil) tomou o microfone para dizer que “não há democracia no Brasil” e que o país vive uma ditadura política, cultural e no Judiciário.
Ele chamou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes de psicopatas e foi ovacionado ao dizer que o Brasil é o “país mais miscigenado e menos racista do mundo”.
O evento ocorreu na casa do pai de um amigo de Josias, localizada no Jardim Europa, bairro nobre da capital paulista. Entre os presentes estavam a secretária estadual da Cultura, Marilia Marton, o produtor e ex-secretário do Audiovisual Ricardo Rihan, o ator Felipe Folgosi, o maestro Julio Medaglia e a vereadora recém-eleita Amanda Vettorazzo (União Brasil).
Pela sala, garçons passavam oferecendo refrescos aos convidados —entre as opções de refrigerantes, cerveja e vinho, o milkshake servido em um copo baixo com um canudo de plástico desproporcionalmente comprido estava entre as bebidas preferidas dos presentes. Para comer, cachorros-quentes e beirutes eram montados na hora.
Josias Teófilo foi o primeiro a discursar. E deu o tom da noite. “Nós estamos vivendo hoje em um contexto simplesmente de censura. A censura é o grande problema da nossa geração. É isso que nós vamos superar”, disse o cineasta, que tem entre seus trabalhos mais conhecidos o documentário “O Jardim das Aflições”, sobre o filósofo e guru bolsonarista Olavo de Carvalho.
“Vejo artistas com medo de se posicionar politicamente. Vejo artistas censurados, cancelados, que não podem frequentar o meio artístico”, seguiu. Ele teceu elogios à gestão da secretária Marilia Marton por “dialogar com os vários setores da sociedade”.
Teófilo relembrou uma entrevista da ministra da Cultura, Margareth Menezes, à BBC News na qual ela afirmou que “as igrejas encontram espaço em vazios culturais”. Ela tinha sido questionada se os templos religiosos, nas periferias, “acabaram suprindo a demanda por bens culturais”.
“Isso é um absurdo, é um vexame desse ministério. Essa mulher deveria ter caído só por ter dito isso”, disse Josias, que pausou a fala devido aos aplausos dos convidados. Sentada em um sofá próximo a ele, Marton acenou com a cabeça em aprovação: “É”, disse.
Teófilo, em seguida, descreveu como “vexame” e “vergonhoso” as atuais gestões do Theatro Municipal de São Paulo e da Spcine, empresa de fomento ao audiovisual vinculada à prefeitura.
Uma das últimas a discursar, Marton foi mais cautelosa com as palavras. Disse que a ideia de diversidade acabou “se distorcendo ao longo do tempo” no país.
“A gente trocou de milênio e é uma nova sociedade. E essa sociedade precisa estar atenta. Então, quando a gente [olha] para esse momento político, é um momento em que a gente precisa de fato se preservar. Se preservar enquanto nação”, afirmou.
O jantar ocorreu como uma iniciativa do movimento Artistas Livres, encabeçado por Joias e Newton.
SIGNOS
A atriz Marieta Severo e a diretora Rosane Svartman receberam convidados na pré-estreia de “Câncer com Ascendente em Virgem”, na quarta (23), na Mostra de Filmes de São Paulo. O enredo é baseado na história de Clélia Bessa, que teve um câncer de mama e abordou o assunto em um blog. Ela produziu o longa, que é estrelado pela atriz Suzana Pires, também roteirista da produção. As atrizes Fabiana Karla e Julia Konrad, que estão no elenco do filme, marcaram presença no evento, realizado no Espaço Petrobras da Cinemateca. Os atores Gabriel Braga Nunes e Luiz Henrique Nogueira compareceram.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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