Seco, rio Madeira sofre com volta de dragas gigantes – 11/09/2024 – Cotidiano

Seco, rio Madeira sofre com volta de dragas gigantes – 11/09/2024 – Cotidiano

O nível do rio Madeira, na altura de Porto Velho, segue caindo de uma forma nunca registrada. O boletim do SGB (Serviço Geológico do Brasil) da última terça-feira (10) mostra que o nível chegou a 79 cm. Com 1,02 m, uma semana antes, já era a menor cota dos últimos 57 anos.

Ribeirinhos que vivem da pesca e da agricultura familiar se viram diante de imensos bancos de areia. Quem está na margem do Madeira desde sempre considera que a situação é decorrência de uma série de fatores, incluindo a falta de chuvas. Outro problema é o garimpo ostensivo por dragas que transitam no principal afluente do rio Amazonas.

Essas estruturas arcaicas remexem o leito do rio atrás de ouro. A atividade ilegal integra a paisagem do Madeira há décadas, e dragas gigantes —dotadas de equipamentos para sucção e trituração de pedras e barrancos— provocam uma alteração agressiva das bases do curso d’água, especialmente no período de seca.

A Folha esteve na região de Humaitá (AM), a 200 km de Porto Velho, e percorreu um trecho de 100 km do rio Madeira, do porto da cidade até as proximidades do lago Santo Antônio.

No percurso de três horas, a reportagem constatou a operação de 25 dragas de grande porte, dotadas com hospedagem e ar-condicionado na parte superior, motores hidráulicos, comandos automatizados e uso ostensivo de mercúrio.

Somadas a dragas de pequeno porte, pertencentes a moradores de comunidades ribeirinhas e conhecidas como balsas, a reportagem contou 104 estruturas de garimpo ao longo do trecho percorrido.

Parte expressiva das dragas menores estava em reconstrução, ainda inoperante.

A atuação de dragas no rio Madeira, no pior momento já registrado numa estiagem na região, ocorre apenas 15 dias depois de uma operação da PF (Polícia Federal) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para destruição das estruturas usadas no garimpo ilegal.

A operação destruiu 459 dragas, segundo um balanço atualizado em 26 de agosto pela superintendência da PF no Amazonas.

A ação dos policiais e agentes do Ibama levou a um violento protesto de garimpeiros em Humaitá, em 21 de agosto. Eles usaram rojões para tentar atacar agentes e buscaram invadir prédios públicos.

Não é a primeira vez que isso ocorre, numa região onde o garimpo ilegal de ouro está incorporado à rotina em comunidades ao longo do rio Madeira e onde grupos criminosos exploram a atividade por meio de dragas maiores, mais potentes e mais equipadas.

Em 2017, em retaliação a uma operação contra garimpo, homens armados invadiram e queimaram escritórios do Ibama, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Humaitá.

Dessa vez, garimpeiros que atuam em balsas afirmam que a operação policial poupou dragas de maior porte. Segundo eles, operadores desses equipamentos usaram como estratégia a permanência no ponto do rio na altura da cidade. Quinze dias depois, essas estruturas seguem com o garimpo intensivo no leito do rio Madeira.

A superintendência da PF no Amazonas não respondeu se essas dragas em Humaitá acabaram poupadas, nem se tem conhecimento da ação contínua das embarcações no garimpo após a operação feita em agosto.

O superintendente do Ibama no estado, Joel Araújo, disse que as operações devem ter continuidade e que os órgãos públicos federais tratam o problema de forma estratégica e de acordo com suas capacidades.

“A quantidade de dragas de garimpo no rio Madeira é tão grande que não seria possível, em uma única operação, acabar com a prática ilícita”, afirmou Araújo. “A operação Prensa [nome da ação desencadeada em agosto] atuou de forma muito intensa sobre o problema, destruindo 500 dragas e balsas.”

Segundo o superintendente, é comum que proprietários dessas estruturas busquem canais dos rios e a proximidade das cidades para tentarem escapar da fiscalização, “pois sabem da cautela dos órgãos em relação às consequências sociais da destruição de dragas em plena orla das cidades”.

A primeira fila de dragas de maior porte opera a uma hora de barco de Humaitá, rio adentro. O primeiro agrupamento visto pela reportagem era composto por três dragas. O seguinte, a poucos minutos, já era uma fileira de oito estruturas, além de pequenas balsas mais distantes.

A lógica da atuação do garimpo no leito do rio repete o que se vê em garimpos em terra: um alerta sobre existência de ouro num dado ponto faz com que embarcações se agrupem para remexer o fundo do rio. Esse movimento é chamado de “fofoca” pelos garimpeiros.

As dragas mais potentes custam mais de R$ 1 milhão, segundo garimpeiros que conhecem a realidade desse mercado ilegal. Os donos das estruturas criminosas delegam a gestão das embarcações a outras pessoas, assim como a operação de garimpagem.

Já as balsas de menor porte estão associadas, em grande parte, a comunidades ao longo do rio Madeira. O garimpo é visto como um complemento à renda da agricultura familiar, do extrativismo ou da pesca. Uma draga pequena, cujo deslocamento precisa de um rebocador, custa entre R$ 40 mil e R$ 70 mil, segundo garimpeiros da região.

Com a saída das equipes de fiscalização e repressão ao garimpo ilegal, balsas são reconstruídas na beira do rio, a partir do que sobrou após serem queimadas ou afundadas.

É comum que garimpeiros migrem de vez para a agricultura familiar, especialmente para o cultivo de banana na região de Porto Velho e Humaitá, após terem balsas destruídas em ações de fiscalização. As duas cidades são conectadas pela BR-319, cujo traçado corre em paralelo ao rio Madeira.

As reportagens da série Mudanças Climáticas na Amazônia contam com apoio da Rainforest Foundation Norway

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

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