
Raul Seixas embala circuito de corridas temáticas – 28/07/2025 – No Corre
- Esporte
- 28/07/2025
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Poucas coisas são mais distantes do imaginário da corrida e da vida saudável do que o cigarro, a birita e o uso desenfreado de remédios. No entanto, o circuito de corridas temáticas que mais cresce no Brasil é devotado a um consumidor compulsivo desses produtos –Raul Seixas.
“Toca Raul” são provas de 7 km (com caminhada de 2 km), com um show de covers do baiano ao final dos trabalhos. O circuito neste ano passa por 12 cidades –talvez 15–, crescimento de pelo menos 100% em relação a 2024.
As próximas: em agosto, Mongaguá, e Passa Quatro; em setembro, Lagoa Santa; em novembro, Caieiras, na Grande São Paulo. Já houve “Toca Raul” em Caxambu, São Thomé das Letras, Santa Rita do Jacutinga, Andrelândia, Tiradentes e Ibitipoca, em Minas; Paraty e Angra, no Rio; Peruíbe, Caraguá e Ubatuba, no litoral paulista. O evento em Santa Rita do Jacutinga, em junho, foi o primeiro de corrida, qualquer corrida, do município. A cidade da Mantiqueira tem menos de 5.000 habitantes.
Para quem não é exatamente fã do Raulzito, a corrida cumpre os requisitos: tem cronometragem, hidratação, camiseta, troféus, medalha, kits com sacochila, camiseta e squeeze, fotógrafos.
O santista Washington Reis, 63, organizador do circuito, é formado em educação física, foi duas vezes secretário de esportes de Peruíbe e já correu maratona com tempo “pro” –2h28m52 em Buenos Aires, em 1988. Ele não se diz “raul-seixista” e começou a organizar corridas em 1990. Mas conta que foi guiado por um sonho, na primeira madrugada de 2018, em que via multidões a correr com o rosto do cantor, sonho que foi precedido por um encontro fortuito com um senhor em Caraguatatuba que disse ter sido vizinho de Raul em Salvador.
“Nunca havia feito corridas temáticas, mas fiquei com o sonho na cabeça. Demorei muito a achar uma ligação entre Raul e a corrida, mas fiz contato com a Vivian, terceira filha dele, que me autorizou a seguir em frente”, disse Reis à coluna.
O acerto foi “no fio do bigode”, como ele diz, e, apesar de afirmar que “perde mais do que ganha financeiramente”, com parte da receita gerada faz doações às instituições que Vivian ajuda. Sem patrocinadores “masters” para todo o circuito, escolhe as localidades de acordo também com os convites que recebe de prefeituras e os custos com que elas se dispõem a arcar.
Difícil ver as provas como eventos de culto, como as procissões no dia da morte do artista, em 21 de agosto, mas, por outro lado, a junção de 700 a 800 pessoas, a média de público, todas com o rosto estilizado de Raul no peito, cria um ambiente de reverência.
A etapa de Caieiras, cidade em que um derreado Raul Seixas foi confundido em show com um impostor e trancafiado depois na cela de uma delegacia, deve ser apoteótica, e Reis espera contar com 1.500 inscritos.
Não passa de especulação, mas o baiano talvez não produzisse seu cancioneiro se adotasse em vida a moderação –o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria, eis o aforismo de William Blake que ele, e por um tempo Paulo Coelho, tinham como dístico.
Mas, quanto a sugerir o que cada um deveria fazer da própria vida, como, quem sabe, correr e adotar hábitos saudáveis, Raul já havia dado a letra: faz o que tu queres, pois é tudo da lei.
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