
Por que muita gente deixou de postar nas redes sociais – 27/07/2025 – Equilíbrio
- Ciência e Tecnologia
- 27/07/2025
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Depois de duas décadas compartilhando cada vez mais postagens online, parece que decidimos reduzir os compartilhamentos.
Pesquisas recentes indicam que cerca de um terço de todos os usuários de redes sociais postam menos do que um ano atrás. E esta tendência é especialmente presente entre os adultos da Geração Z (os nascidos entre 1995 e 2010).
Em um artigo recente para a revista The New Yorker, o escritor Kyle Chayka sugeriu que a sociedade pode estar se encaminhando para o que ele chama de “postagens zero” —um ponto em que as pessoas comuns percebem que não vale a pena compartilhar suas vidas online.
Percebi esta tendência de queda nas minhas próprias redes sociais. Para cada foto das férias de um amigo ou dos filhos de um colega, parece haver dezenas (quando não centenas) de postagens de marcas e influenciadores, promovendo um novo produto ou discutindo as últimas tendências.
As redes sociais costumavam parecer uma cópia imperfeita da minha vida social. Mas, agora, elas parecem ser um “conteúdo” como outro qualquer.
Sei que parte disso ocorre porque as plataformas mudaram. O TikTok e o Instagram acumularam infinitas coleções de vídeos verticais e criaram algoritmos assustadoramente poderosos para orientar você através deles.
Mas o que acontece com as nossas vidas digitais quando as redes sociais, aparentemente, se tornam muito menos sociais?
Conversei com Kyle para saber mais a respeito. Ele é jornalista do The New Yorker e seu livro mais recente é Filterworld: How Algorithms Flattened Culture (“Mundo filtrado: como os algoritmos nivelaram a cultura”, em tradução livre).
Confira abaixo a nossa conversa, editada por motivos de concisão e clareza.
Katty Kay (BBC): Quando vejo os feeds das minhas redes sociais, encontro muitos anúncios e fotos de lindas casas que nunca irei comprar, em locais que provavelmente nunca irei nem mesmo visitar.
Mas estou literalmente tentando lembrar quando foi a última vez em que realmente vi a postagem de um amigo.
O que isso significa para o futuro dessas plataformas, se o motivo que nos leva a visitá-las, agora, é totalmente diferente do que era apenas dois anos atrás?
Kyle Chayka: Acho que as redes sociais passaram a ser menos sociais. Elas se tornaram mais questão de consumir esse tipo de conteúdo que, hoje, é basicamente commodity.
É mais questão de aspiração de estilo de vida, não simplesmente sobre o que está acontecendo à sua volta e como você se relaciona com seus amigos e sua família. Para mim, isso meio que elimina o propósito das redes sociais.
Se as plataformas estão perdendo o foco na vida normal das pessoas e as pessoas normais não se sentem mais incentivadas a publicar postagens, as redes sociais passam a ser como a televisão.
O que sobra para nós são os anúncios de marcas, o fast fashion e os anúncios de casas e hotéis, não mais aquele tipo de conteúdo orgânico e altamente consistente ao qual estávamos acostumados.
Kay: Os administradores das empresas de redes sociais possuem algoritmos muito sofisticados para nos cativar.
Qual é a reação deles a esta questão? Ou eles estão simplesmente felizes por terem mais anúncios e ganharem mais dinheiro com publicidade?
Chayka: Acho que seus principais clientes são os anunciantes. Por isso, enquanto nós, usuários, ainda estivermos engajados, seu modelo comercial ainda funciona.
Acho que eles também apostam que o conteúdo gerado por seres humanos será gradualmente substituído por material gerado por inteligência artificial.
Você já pode ver a Meta meio que movendo o feed do Facebook e do Instagram rumo a esse conteúdo gerado por computador, que é obviamente infinito e barato, mas também inexpressivo, na minha opinião.
Kay: Você acha que existe a possibilidade de que as plataformas de redes sociais vejam uma redução significativa das pessoas que realmente entram para ver onde nossos amigos passaram o feriado ou o que eles comeram no café da manhã?
Chayka: Acho que sim.
Acho que existe um leve declínio. Sei de um estudo recente que concluiu que menos pessoas estão realmente postando no TikTok.
Mas o que estas plataformas concluíram, acho que o Instagram em particular, é que o nosso compartilhamento pessoal está se movendo mais em direção a mensagens diretas e conversas individuais com nossos amigos.
Na verdade, nós precisamos de uma rede social online. Mas as redes sociais que temos agora, na verdade, não querem desempenhar este papel.
Por isso, acho que haverá novos espaços e talvez surjam novos aplicativos para atender a esta necessidade, seja como um WhatsApp ampliado ou um melhor sistema de gestão para todos os grupos de bate-papo com seus amigos.
Acho que estamos nos movendo para uma forma mais privada, mais íntima de conexão online.
Kay: Tenho filhos na casa dos 20 anos de idade e adolescentes. Havia toda uma percepção na minha geração de que os jovens de hoje não se preocupam com a privacidade e ficam felizes em postar de tudo online.
Eu me pergunto se estávamos errados a este respeito, que os jovens provaram esse mundo onde tudo era colocado em público e, agora, eles estão pensando, “na verdade, eu prefiro que meus grupos sejam mais íntimos e curados, sem que o mundo inteiro saiba o que eu comi no café da manhã”…
Chayka: Acho que nós meio que aprendemos as desvantagens de publicar nossa vida privada ao longo dos anos 2010. Você pode ver isso com a vergonha pública ou certos constrangimentos virais ocorridos com as pessoas.
Acho que o contrato social das redes mudou.
O acordo era que, se você fizesse publicações ali, se você colocasse conteúdo, você poderia atrair um público em massa. Mas isso se torna um círculo vicioso que acaba sendo toda a sua vida.
Por isso, a menos que você pretenda ser um influenciador ou alguém que posta conteúdo na internet profissionalmente, este acordo não parece mais tão bom assim.
As desvantagens de postar são grandes demais e as vantagens não são suficientes. Por isso, você pode simplesmente enviar mensagens de texto para os seus amigos.
Kay: Tive uma conversa superinteressante com Jonathan Haidt [o autor do livro Geração Ansiosa], que certamente dedicou muito trabalho a tentar proibir os celulares nas escolas.
Você acha que, se a tendência que você indicou (e chama de “postagens zero”) acabar sendo uma onda mais significativa, realmente ficará mais fácil romper o vício das crianças em celulares e outros aparelhos?
Chayka: É uma boa pergunta. Acho que, de certa forma, já ultrapassamos o auge das redes sociais, mas não acho que isso elimine as conversas digitais que as pessoas têm 24 horas por dia, sete dias por semana.
O que ocorre é que essa conversa sai dos canais públicos para os bate-papos em grupo, mensagens diretas ou alguma plataforma mais efêmera, como o Snapchat.
A capacidade viciante do celular ainda existe. A distração certamente ainda está presente. Mas acho que a sua natureza pública diminuiu.
Acho que é um pouco melhor termos saído da esfera pública e eliminado aquele risco de ficarmos totalmente expostos para o mundo inteiro e acabarmos viralizando pelos motivos errados.
Mas ainda enviamos mensagens de texto uns aos outros o dia todo. Ainda consumimos memes. Ainda somos distraídos pelos feeds.
Kay: Vamos pensar no futuro. Como iremos olhar para os nossos celulares daqui a cinco anos?
O que irá mudar nas nossas interações com o componente social dos nossos celulares e outros aparelhos?
Chayka: Acho que será mais como a televisão.
Se observarmos como tudo está acontecendo, existe muita mídia profissionalizada. Existe muito conteúdo passivo.
Nós meio que observamos essa fusão atual de YouTube, TikTok e Netflix em uma única combinação diabólica de áudio, vídeo e algoritmos.
Se eu fosse prever algo, diria que as conversas e o aspecto social estarão em mensagens de texto ou talvez poderão se mover mais em direção à vida real.
Acho que esse pico das redes sociais serviu mais para criar um desejo de interação entre as pessoas e nos fez lembrar o valor de realmente compartilhar coisas na vida real. Isso me dá um pouco de esperança.
Kay: Você acha que chegaremos a um mundo de postagens zero, onde pessoas como eu e você simplesmente não postamos mais online?
Chayka: Acho que sim. Acho que irá chegar mais cedo do que esperamos, simplesmente porque não há mais incentivo para fazer postagens.
Por que postar as suas selfies ou seu café da manhã se ninguém presta atenção, se você não atinge seus amigos e simplesmente concorre com todo esse lixo remoto abstraído que há por aí?
Talvez as redes sociais fossem, de certa forma, essa aberração ou fuga. E essa ideia de que toda pessoa normal deve compartilhar sua vida em público era meio que falsa desde o princípio.
Agora, estamos acordando um pouco e vendo os danos que aquilo causou. E mudando um pouco os nossos hábitos.