mau uso de IA por alunos causa “epidemia de preguiça”

mau uso de IA por alunos causa “epidemia de preguiça”

O uso inadequado de ferramentas de Inteligência Artificial pode ter impactos no funcionamento do cérebro de estudantes jovens e adultos, como demonstrou uma pesquisa recente realizada no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. Mas e quanto aos estudantes dos anos iniciais? Qual o efeito das máquinas no aprendizado dos pequenos?

O professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e doutor em Educação Pedro Caldeira fez esse questionamento a uma IA, e a resposta dada pelo computador foi simples e direta: as ferramentas não devem sob nenhuma circunstância ser utilizadas na Educação Infantil. Somente ao final do Ensino Médio, recomendou o sistema, esses meios devem ser aproveitados pelos estudantes. Ainda assim, apenas para a para correção ortográfica de textos, e não como fonte primária de pesquisa.

O uso inadequado de ferramentas de IA entre os jovens estudantes está provocando, nas palavras de Caldeira, uma “epidemia de preguiça”. Em entrevista à Gazeta do Povo, o pesquisador em Tecnologia Educacional ainda alertou para os riscos trazidos pelo mau uso dos sistemas de Inteligência Artificial por alunos em formação.

Confira a entrevista de Pedro Caldeira à Gazeta do Povo

Como foi esse seu experimento pedindo para que uma IA avaliasse a si mesma no contexto da Educação Infantil?

Eu fiz essa experiência com o Grok [ferramenta de IA da rede social X]. Em princípio, perguntei sobre os possíveis impactos da Inteligência Artificial no futuro da Educação Básica no Brasil. Essa primeira resposta veio em tom de esperança, dizendo que a IA iria resolver problemas e ajudar na aprendizagem em nível mais profundo. Um cenário totalmente idealizado, com os professores podendo se dedicar a um outro tipo de preparação de aula apoiados por essa tecnologia.

E o que levou o Grok a mudar de ideia?

Essa resposta não trouxe absolutamente nada de pensamento crítico. E eu fiz uma nova pergunta, mas dessa vez levando em conta dados reais sobre o uso de tecnologias, como as telas, na formação das crianças. Eu tenho 40 anos de experiência nessa área, e compartilhei um pouco disso com o Grok. A resposta, então, veio completamente diferente.

Primeiro, a IA disse que sob nenhuma hipótese ou circunstância essas ferramentas devem ser usadas na educação infantil, que começa aos três anos de idade. Depois, veio outra sugestão desaconselhando o uso até o fim do Ensino Fundamental. Por fim, o Grok apontou que um possível uso seria ao fim do Ensino Médio, e mais como uma ferramenta de correção ortográfica e gramatical do que como fonte de pesquisa.

Mas essa não deve ser a realidade nas redes pública e privada de educação no Brasil, imagino.

Não mesmo. A minha esposa é professora, e tem encontrado coisas inacreditáveis em trabalhos apresentados pelos estudantes. Ela alerta os alunos para não usarem a Inteligência Artificial como ferramenta de escrita, porque é muito fácil perceber quando a autoria é de uma criança e quando é da máquina. Não há um erro, concordância sempre correta, é demasiado perfeito, sabe?

É uma ilusão que eu vi acontecer de forma repetida ao longo dos anos. Quando uma nova tecnologia surge e começa a ser usada na educação, geralmente ela cria mais problemas do que aqueles que ela resolve. As pessoas gostam dessa ilusão, de que é mais fácil, mais rápido e mais prático.

Mas um extremo aconteceu em uma turma na qual um dos trabalhos tinha o nome de Rubem em meio ao texto. Só que ela não tem nenhum aluno com esse nome. Então, além de ter certeza de que o trabalho foi escrito por uma IA, ela soube ali que provavelmente quem deu os comandos não foi nem o aluno. Isso é a preguiça pura, na sua essência.

E essa preguiça acaba trazendo fortes impactos ao longo da vida desses estudantes.

Sim, porque ao fim essa pessoa está apenas fingindo que está estudando. Não há aí uma preocupação real com o aprendizado. Eles estão prejudicando a si mesmos e não percebem, porque acreditam que estão tomando um atalho, cortando um caminho, ganhando um tempo.

Some-se a isso alguns professores que estão totalmente desinteressados no aprendizado dos alunos e forma-se o cenário perfeito para uma “epidemia da preguiça”. Isso é real, está acontecendo. O objetivo final deixou de ser o aprender, e passou para o ser aprovado.

E quando esses jovens vão para o mercado de trabalho parece que lhes falta uma flexibilidade mental para resolver problemas simples. Eles não conseguem compreender um problema ou elaborar uma solução, e acabam passando a questão para o colega ao lado.

Baseado em sua experiência, qual é a sua visão sobre essas ferramentas de Inteligência Artificial na educação?

Elas certamente vão facilitar uma série de tarefas, sem dúvidas. Mas é uma ilusão achar que isso vai resolver os problemas da humanidade. O pensamento crítico, tão necessário para todos, só pode existir se for baseado em conhecimento solidamente adquirido.

Quem não tem conhecimento pode ver em uma IA uma fonte absoluta de conhecimento, e não é assim. Elas podem “alucinar” e dar respostas erradas. E se a pessoa tiver nisso sua fonte de verdade, ela vai confiando cada vez mais. Isso leva à preguiça de buscar outras fontes de conhecimento.

No ambiente escolar, muitos estudantes sequer revisam os textos escritos por uma IA. Eles parecem não estar preocupados com o resultado final. Eventualmente, esses estudantes deixam de desenvolver seu máximo potencial. Isso a médio e longo prazo pode representar a morte do sistema educacional no Brasil.

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Fonte Original do Artigo: www.gazetadopovo.com.br

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