Já ouviu falar de filé de igreja? – 20/06/2025 – Nação churrasqueira

Já ouviu falar de filé de igreja? – 20/06/2025 – Nação churrasqueira

Tudo começou quando um seguidor me perguntou sobre “filé de igreja”. Confesso que fiquei perplexa: depois de anos falando sobre carnes, nunca tinha ouvido falar nesse corte. A internet, minha fonte usual de respostas, também não sabia. Foi preciso convocar meus seguidores gaúchos para desvendar esse mistério.

O filé de igreja (ou assado de igreja) pode ser dois cortes diferentes. O primeiro, chamado de filé duplo, reúne contrafilé, filé-mignon e parte da fraldinha, uma espécie de T-bone avantajado. O segundo, conhecido como orelha de elefante, por seu formato peculiar, é um pedaço generoso da alcatra que inclui picanha, maminha e até filé-mignon. Hoje, esses cortes são encontrados em restaurantes especializados, mas sua origem é bem mais humilde.

Das quermesses para a churrasqueira


O assado de igreja nasceu nas festas de quermesse —aquelas animadas celebrações de junho e julho, com comes, bebes e muita música—, mas escapou do calendário paroquial e hoje é degustado o ano todo. “O nome vem justamente daí: era a carne que a comunidade assava e vendia para arrecadar fundos”, explica Marcos Livi, chef com 40 anos de gastronomia e criador do grupo Bah, natural de São Francisco de Paula, na serra gaúcha.

Segundo ele, os fazendeiros doavam a carcaça do boi abatida para a igreja. “No sábado, preparava-se a buchada, e no domingo, as carnes eram assadas em espetos de madeira, cortadas em pedaços iguais, sem distinção entre traseiro e dianteiro”, conta. O ritual era simples: você comprava a carne, marcava seu nome no espeto, ia à missa e, ao meio-dia, retornava para buscar o assado —ou comia ali mesmo, no salão paroquial, acompanhado dos clássicos arroz, salada de maionese e vinagrete.

A técnica de conservação que virou tradição

Mas o assado de igreja não é só sobre o corte —é também sobre a técnica. A carne é fatiada com cerca de um dedo de espessura e marinada em tambores de plástico ou até caixas d’água, em camadas intercaladas de temperos. A mistura fica descansando por pelo menos quatro horas, ou de um dia para o outro. O ácido da marinada vai cozinhando a carne e quebrando as fibras.

Marcelo Bolinha, natural de Porto Alegre, açougueiro e assador com 30 anos de experiência, revela no seu canal de YouTube sua receita: para 1 kg de filé duplo, usa sal a gosto, um fio de azeite, ¼ xícara de vinho branco, uma cebola picada, dois dentes de alho, um punhado de salsinha e cebolinha picada, suco de meio limão e um pouco de água. Depois é só levar ao fogo alto até dourar bem os dois lados —geralmente é servida bem passada.

O que começou como solução prática das comunidades coloniais —a marinada ajudava a conservar a carne no clima frio da serra— transformou-se em tradição gastronômica. Hoje, o assado que nasceu nas quermesses de inverno pode ser encontrado o ano todo, levando um pedaço da história e da cultura gaúcha para a mesa dos apreciadores de boa carne.

Mas, infelizmente, ainda restrito à região Sul do país. E você, já conhecia ou provou esse prato?


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Fonte Original do Artigo: redir.folha.com.br

Postagens Relacionadas

Haddad: governo tem plano para socorrer setores afetados por tarifaço

Haddad: governo tem plano para socorrer setores afetados por…

As áreas técnicas da equipe econômica e do Ministério das Relações Exteriores concluíram o desenho do plano de contingência para socorrer…
Após denúncias de alunos, governo anuncia aumento do Fies

Após denúncias de alunos, governo anuncia aumento do Fies

Depois de estudantes de Medicina que dependem do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) denunciarem o drama que vivenciam a cada semestre…
‘Venho de uma realidade difícil’

‘Venho de uma realidade difícil’

Em entrevista para Revista CARAS, a jornalista Valéria Almeida fala sobre aprendizados pessoais e o prazer de envelhecer com leveza Valéria…